Desfechos atropelados reforçam erros e "Babilônia" termina mais caótica do que começou

Divulgação/TV Globo
"Vamos nós duas, para o fundo do poço, de mãozinhas dadas. Não é para isso que servem as amigas?". A frase, dita pela vilã Beatriz (Glória Pires), logo no primeiro capítulo de "Babilônia", servia para dar uma ideia da relação entre a personagens e sua rival, Inês (Adriana Esteves). Mais de 140 capítulos depois, a novela de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, chegou ao fim, nesta sexta-feira (28), mostrando que todo o resto da história mergulhou de cabeça nesse poço junto com as vilãs.
Caótico, o último capítulo apresentou soluções pobres e rápidas para os personagens, dando a nítida impressão que tudo estava sendo feito no melhor estilo "o último a sair que apague a luz". As principais antagonistas, Inês e Beatriz, por exemplo, foram julgadas e condenadas por seus crimes e passaram a dividir a mesma cela no presídio. Envolvida em um esquema de fuga, Inês é obrigada a levar a rival com ela. Já livres, as duas têm um último embate e, tentando copiar a clássica cena do filme "Thelma & Louise", jogam o carro em um precipício. 
Usado para tentar aumentar o interesse do público pela novela, o tradicional "Quem Matou?" só confirmou que, desde o começo, era um recurso sem sentido. Em uma cena totalmente sem importância no capítulo, foi revelado que Otávio (Herson Capri), um personagem perdido durante toda a história, era o assassino do cafetão Murilo (Bruno Gagliasso), outro tipo criado pelos autores que também, há muito tempo, estava sem função na trama.
Insosso desde o início, o casal Regina (Camila Pitanga) e Vinícius (Thiago Fragoso) terminou casado e feliz. O desfecho, no entanto, pareceu demasiadamente demorado, já que, desde o primeiro encontro, os personagens sofreram com a falta de conflito, elemento este necessário para qualquer par romântico de folhetim. Durante sua trajetória, o casal foi se arrastando na história amparado por idas e vindas fragilmente justificadas, que em nada fizeram o público torcer por eles.
O único núcleo que conseguiu resistir até o fim da novela também foi responsável pelo menos pior dos momentos do último capítulo. Envolvido em inumeráveis esquemas de corrupção, o falso moralista político Aderbal Pimenta (Marcos Palmeira) consegue se eleger governador, mas é preso por seus crimes durante a posse. Quem assume a cadeira é sua vice, a conservadora e religiosa Consuelo (Arlete Salles, ótima), que passa a enfrentar a oposição ferrenha da advogada Tereza (Fernanda Montenegro), agora eleita deputada.
Quando estreou, "Babilônia" surpreendeu com um ótimo primeiro capítulo, cheio de ganchos, viradas e personagens interessantes. A partir daí, só ladeira abaixo. A trama mostrou, ao longo dos meses, que não possuía fôlego para tanto tempo de estrada. Sem história ou conflitos interessantes, muitos personagens foram utilizados como "figuração de luxo". Cenas repetitivas e soluções fáceis também ajudaram a novela a se afundar ainda mais.
Divulgação/TV Globo
Criticada por abordar temas como violência, maldade, sexo e homossexualidade de forma direta, "Babilônia" tentou mudar alguns rumos de sua trama e suavizou histórias. As maldades entre Inês e Beatriz foram rapidamente minimizadas e as personagens estabeleceram, então, uma disputa birrenta, quase infantil. A revelação do motivo de tanto ódio também foi agilizada, mas não houve qualquer valor a ser agregado à trama.
Outro exemplo das mudanças no folhetim é o do relacionamento entre Estela (Nathália Timberg) e Tereza. O casal se beijou logo no primeiro capítulo e, com isso, os autores construíram, na minha opinião, a abordagem mais correta sobre o tema, até então, na televisão brasileira, tratando o casal como qualquer outro, sem distinções. A novela, no entanto, deu vários passos para traz quando cedeu às críticas de uma parcela do público e afastou as personagens, transformando-as, praticamente, em irmãs. No final, elas voltaram a se beijar, mas isso não redimiu a falta de coragem anterior. 
As mudanças feitas em "Babilônia" afetaram, principalmente, os personagens. Beatriz começou sendo uma ninfomaníaca sem nenhum caráter, mas se transformou em uma mulher que só fazia sexo com Diogo (Thiago Martins), o homem pelo qual se apaixonou, A personagem até voltou às origens no fim, o que só tornou tudo ainda mais contraditório. Assim como ela, Inês deixou de ser uma mãe megera da noite para o dia; Evandro (Cássio Gabus Mendes) virou um romântico apaixonado, deixando de lado sua faceta de playboy malandro; Alice (Sophie Charlotte), que se tornaria uma prostituta, virou uma mocinha sem graça e sem função; e Murilo deixou o mundo do crime e da cafetinagem para ensaiar uma redenção, que não deu certo.
Sem uma história sólida desde o início, "Babilônia" ainda enfrentou muitas mudanças durante sua trajetória, que foram responsáveis por descaracterizar personagens e enterrar de vez a trama. O resultado não poderia ser pior e o folhetim terminou atropelado, sem surpresas e mais confuso do que começou. Com certeza, uma das piores novelas já apresentadas no horário nobre da Globo. 

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