Game of Thrones acerta com temporada que movimenta personagens e amarra tramas


É muito difícil conduzir uma série durante muito tempo na televisão, mantendo a qualidade e o interesse do público sempre no mesmo nível. Isso se torna ainda mais complicado quando há uma grande quantidade de personagens, que precisam ser "dosados" entre os episódios e, ainda, entrelaçarem suas histórias. Dito isso, considero que o sexto ano de "Game of Thrones", fenômeno do canal HBO, apesar de criticado por alguns, foi um acerto. O fator principal para isso, acredito eu, seja o mesmo pelo qual a série recebeu muitas críticas: a necessidade de convergência das tramas.
A sexta temporada de "Game of Thrones", que terminou neste domingo (26), foi uma temporada diferente das outras. Apesar de repleta de momentos marcantes, essa leva de episódios não primou, necessariamente, por ação ou grandes acontecimentos. Com exceção da "Batalha dos Bastardos", evento que movimentou o penúltimo (e já muito esperado pelos fãs) episódio, todos os demais se dedicaram a concluir histórias e abrir novos caminhos.
Foram tantos acontecimentos, que até fica difícil fazer um resumo da temporada: tivemos o renascimento de Jon Snow (Kit Harington), que vingou a traição de seus "companheiros" da Patrulha da Noite, se uniu à irmã Sansa (Sophie Turner), reuniu um exército de aliados improváveis, recuperou Winterfell e foi proclamado o novo rei do Norte; tivemos a esperada derrota do impiedoso Ramsay Bolton (Iwan Rheon); o amadurecimento das habilidades especiais de Bran (Isaac Hempstead Wright) e a consequente revelação de segredos sobre o trono; o julgamento de Cersei (Lena Headey) e a concretização de seu maior desejo; o reencontro de Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) com o povo Dothraki, a volta para Mereen e a costura de alianças visando o Trono de Ferro; a saga de Arya (Maisie Williams) de volta às suas origens; e tantos outros desfechos envolvendo personagens importantes. Melhor parar por aqui, para evitar os spoilers.
Foi uma temporada de momentos marcantes, como a retomada do controle de Mereen por Daenerys; a saída de Arya de Braavos e a retomada de seu desejo de vingança; a vitória dos Stark na "Batalha dos Bastardos". E ainda teve o último episódio e as cenas que antecederam e sucederam o "explosivo" plano de Cersei para retomar o controle de King´s Landing após um período de descontrole sob a influência do Alto Pardal (Jonathan Price).
Com tantos acontecimento, deve parecer estranho eu dizer, então, que a sexta temporada de "Game of Thrones" não primou pela ação. De fato, outros anos da série podem ser considerados mais "agitados", mas é oportuno analisar que, mesmo assim, havia pouco movimento, os personagens pouco saíam do lugar. É bem verdade, também, que todo esse período "estático" era necessário para a construção de cada trama, mas era inevitável que isso gerasse algum movimento mais importante.
Depois de anos com tramas que se fortaleciam e, ao mesmo tempo se distanciavam, a sexta temporada de "Game of Thrones" é o movimento que faltava para que as histórias ganhassem uma nova unidade. Essa convergência mostra a abertura de um outro caminho, que possivelmente apontará para o desfecho da série. Por isso o argumento que, apesar de menos ação, no sentido de grandiosos acontecimentos, a produção teve mais movimento narrativo agora. 
Para que isso fosse possível, o roteiro ganhou novos elementos, que fizeram a história se tornar mais introspectiva, chamemos assim, apostando mais nas mudanças internas e nas nuances dos personagens. Eu diria, até, que foi uma temporada de amadurecimento para Jon Snow, Bran, Cersei, Arya, Sansa, Daenerys e outros. Neste sexto ano, mais do que batalhas ou grandes traições, as marcas deixadas pelos acontecimentos contaram mais do que eles em si.
Também é importante destacar que, mais do que uma fantasia que fala de dragões, maldições e mortos-vivos, "Game of Thrones" também é uma série que traça reflexões interessantes sobre política e sociedade. Nesses últimos dez episódios, eu destaco uma discussão importante que a produção levantou, ainda de forma sutil, mas promissora: o empoderamento feminino. Vemos, agora, mulheres tomando a frente de tronos, reinos e estratégias de guerra, um sinal dos nossos tempos, mesmo em uma trama que não se passa neles.
"Game of Thrones" teve, mesmo que criticada por alguns, que esperavam mais, uma temporada necessária, que primou por uma convergência de tramas e um movimento, algumas vezes interno, dos personagens. O fato de ter tido "menos" ação, na verdade, foi o que mais fez a história andar. Digamos que foi um ano mais estratégico e menos grandioso, apesar de alguns momentos de tirar o fôlego (escrevo isso ainda me recuperando dos últimos). Agora, os caminhos estão mais definidos e os personagens são mais maduros. Isso, talvez, mostre que Westeros é um reino pronto para receber o seu verdadeiro rei. Enquanto isso não acontece, ao espectador só resta esperar até o ano que vem.

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