"O Mundo Sombrio de Sabrina" acerta o tom e rende boa maratona de fim de semana


Lançada na década de 90, a série adolescente "Sabrina, Aprendiz de Feiticeira" fez sucesso ao longo de sete temporadas e se transformou em outros produtos, como uma animação, quadrinhos e até filmes, estes últimos muito reprisados na "Sessão da Tarde". Adaptando o argumento, o serviço de streaming Netflix lançou uma nova produção com a bruxa como protagonista, mas manteve bem pouco da inspiração original, escolha que, ao longo dos episódios, se mostrou acertada.
Na nova série, Sabrina Spellman (Kiernan Shipka) está prestes a completar 16 anos e entrar, definitivamente, para o mundo dos bruxos. Filha de um feiticeiro famoso e uma mortal, a garota aguarda a execução de um ritual obscuro, que visa introduzi-la na Igreja da Noite, religião que idolatra Satã e deveria afastá-la do laços mortais.
Para entregar sua alma ao demônio, Sabrina precisa assinar, com sangue, o Livro da Besta, mas a jovem desiste do ritual momentos antes de concretizá-lo. Um dos fatores que mais pesa na decisão é o relacionamento com Harvey (Ross Lynch) e o convívio com as amigas do colégio. A opção, no entanto, impacta na família Spellman, representada pelas tias da bruxa adolescente, Zelda (Miranda Otto) e Hilda (Lucy Davis), cuja reputação diante dos membros da Igreja da Noite fica abalada.
A recusa de Sabrina em se entregar ao mundo dos bruxos preocupa o Padre Blackwood (Richard Coyle), um dos principais nomes na hierarquia da Igreja da Noite. Para evitar que a protagonista se afaste de vez desse universo, ele permite que a garota mantenha os laços com os dois mundos, desde que também frequente a escola dos feiticeiros e aprenda mais sobre seus poderes. Ao lado da professora Mary Wardwell (Michelle Gomez), que esconde a verdadeira identidade, Blackwood deixa a impressão de que a integração de Sabrina à Igreja da Noite tem outros objetivos.
Bem diferente da narrativa ingênua e simplista do sucesso da década de 90, "O Mundo Sombrio de Sabrina" se destaca, justamente, pela mudança de tom. Apostando em uma temática obscura, mais adequada ao universo de bruxos e demônios, a série ganhou coerência e trouxe mais profundidade ao plano de fundo da história. A abordagem dos personagens, apesar de manter bases juvenis, é beneficiada pela atmosfera sombria e eles acabam parecendo mais consistentes do que no original.
Além dos nomes e algumas referências, pouca coisa restou da inspiração. A ideia de constituir uma religião que norteie os bruxos, relacionada por alguns ao satanismo e até alvo de um processo de um templo do gênero, funciona bem, assim como a inclusão de novos personagens, como a professora Wardwell e o primo de Sabrina, Ambrose (Chance Perdomo). A escolha por retratar o gato Salem de uma forma mais realista também representa um pequeno ganho da série.
A tentativa de modernizar o enredo de Sabrina, além da mudança do tom, também passa pela abordagem de alguns temas importantes para os dias atuais, como bullying, feminismo e assédio. Apesar de ficarem restritos em segundo plano, a criação de conflitos que envolvam esses assuntos rende boa movimentação aos episódios.
Nem tudo, no entanto, funciona em "O Mundo Sombrio de Sabrina". A duração dos episódios, todos com quase uma hora, provoca, em alguns momentos, certas "barrigas" no roteiro, que atrasam acontecimentos sem necessidade e cria situações repetitivas para os personagens. Para a segunda temporada, pode ser interessante rever o tamanho dos capítulos ou buscar preencher melhor a história, evitando repetições narrativas.
Muito distante da referência original mais famosa, "O Mundo Sombrio de Sabrina" apresenta uma mudança acertada de tom, deixando a abordagem ingênua e mergulhando a história para um universo mais obscuro. Aliada à construção dos personagens, essa característica garante uma boa maratona de fim de semana, daquelas despretensiosas e visando apenas entretenimento.

O MUNDO SOMBRIO DE SABRINA (primeira temporada)

ONDE: Netflix (todos os episódios disponíveis)

COTAÇÃO: ★★★ (boa)

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