O melhor da TV em 2015


Nem só de coisas ruins viveu a televisão em 2015. No ano que chega ao fim, as séries continuam dominando espaço nos canais e mostrando ao público uma enorme qualidade. Histórias intrigantes sobre crimes, heróis e disputas por poder são apenas alguns temas de ótimos roteiros televisivos, que provocam e viciam o espectador a esperar pelo próximo episódio. As novelas, mesmo que o gênero tenha tido algumas derrapadas, também vieram apresentando qualidades e mostraram que os personagens podem fugir do clássico maniqueísmo e mostrar que a complexidade é sempre mais interessante. Mas, também teve folhetim clássico, que apostou no drama e em amores impossíveis para prender a atenção do público, o que tem seu valor, desde que executado com qualidade e cuidado. E, entre os programas de entretenimento, teve reality show que fez muita gente ter vontade de cozinhar. Aqui estão os destaques positivos de 2015.

1) Sete Vidas

Escrita por Lícia Manzo, "Sete Vidas" foi a novela do ano. A autora propôs ao público um diálogo sobre o valor e a beleza do cotidiano de pessoas "de carne e osso", com complexos problemas pessoais e traumas a serem superados. O texto excepcional de Lícia e seus colaboradores, que mostraram extremo cuidado para apresentar o resultado final ao público, foi o grande diferencial. Sem recursos folhetinescos clássicos, a novela tirou personagens da superficialidade e aprofundou seus conflitos, dando nuances interessantes a eles e extrapolando os limitadores conceitos de certo ou errado, bom e mau, bonito ou feio. "Sete Vidas" ainda teve uma direção extraordinária, que combinou com o tom naturalista impresso pela narrativa.

2) Fargo

Mesmo que não tenha provocado o mesmo barulho que outras séries, "Fargo" foi a melhor do gênero em 2015. Concebida em formato de antologia, com uma história diferente a cada temporada, a produção, baseada no filme homônimo, preservou o espírito da inspiração original e foi além. O roteiro excelente, formado por diálogos rápidos e inteligentes, continuou apostando em situações casuais que acabam se transformando em verdadeiros caos e em como esses eventos podem afetar a vida de pessoas aparentemente comuns. Direção primorosa e ótimo elenco ajudaram a construir a produção que, sem sombra de dúvidas, merece ter seus episódios exibidos em maratona.

3) Narcos

Wagner Moura chamou atenção (mais uma vez!) vivendo o traficante Pablo Escobar na série "Narcos", produção do Netflix dirigida pelo brasileiro José Padilha. Em dez episódios, a produção é baseada na história real de um agente do DEA enviado para a Colômbia para atuar contra o cartel comandado pelo narcotraficante, cujas atividades ilícitas passam a influenciar nos Estados Unidos. Além do roteiro bem amarrado, pontuado por ação e situações fortes, vale a pena acompanhar a série para ver o excelente trabalho de Moura, que incorpora o personagem e, por conta disso, concorre ao Globo de Ouro de melhor ator dramático.

4) Masterchef

Reality shows surgem aos montes e, em 2015, especialmente os de culinária, se multiplicaram na televisão. Nenhum deles, no entanto, foi tão eficiente em divertir o público como "Masterchef", produzido pela Bandeirantes. É, disparado, o melhor acerto do canal em anos, uma equação perfeita de boa produção, edição precisa e jurados que entendem bem seus papéis dentro da engrenagem do programa. O sucesso da atração fez a emissora explorar uma versão com crianças, que, apesar de boa, não tem metade da graça da original. Para o ano que vem, uma nova temporada já está agendada.

5) Magnífica 70

Quão contraditório pode ser um censor da Ditadura Militar que, durante o dia, proíbe que filmes sejam exibidos para o grande público, mas, à noite, trabalha na produção de longas-metragem na Boca do Lixo? Esse é o conflito central vivido por Vicente, o protagonista de "Magnífica 70", série nacional da HBO que se destacou nesse ano. A história, interessante e bem contada, conquista o espectador logo de cara. O conflito entre universos tão opostos proporciona bons momentos à produção, que também chama atenção pelo contexto história e ambientação da trama. Por fim, o elenco tem nomes excelentes, como Marcos Winter, Simone Spoladore, Joana Fomm e Paulo César Peréio. E vem segunda temporada por aí...

6) Downton Abbey

As mudanças sofridas pela aristocracia britânica, a partir de 1912 e indo até os anos 20, com a ascensão da classe trabalhadora renderam boas tramas a "Downton Abbey", produção, que depois de seis temporadas, terminou em 2015. Dramalhão (sem conotação pejorativa) da melhor qualidade, com roteiro inspirado e humor afiado, a série divertiu e emocionou, mesmo sofrendo algumas alterações, especialmente provocadas pela saída de personagens centrais. A qualidade do trabalho dos roteiristas foi além e "Downton Abbey" chegou ao fim no auge, Isso tudo sem falar no prazer que é ver atores ingleses em cena, especialmente a genial Maggie Smith, que fez de sua Condessa Viúva, uma coadjuvante, a melhor personagem em cena.

7) Bates Motel

Concebida como um prelúdio de "Psicose", clássico consagrado nos cinemas por Alfred Hitchcock, "Bates Motel" chegou ao terceiro ano preservando a tensão que marca a série desde o primeiro episódio. A produção focou na, cada vez mais visível, loucura de Norman Bates e da influência que a mãe, Norma, exerce sobre ele. Mesmo preservando a inspiração original, a série conseguiu estabelecer personalidade e caminhas com as próprias pernas. Além do aprofundamento dos conflitos entre os personagens, os trabalhos de Vera Farmiga e Freddie Highmore são impecáveis e dignos de aplausos.

8) Além do Tempo

Em meio a tantas tentativas de inovação, algumas vezes, apostar no tradicional é a melhor escolha. Focando em clássicos recursos folhetinescos, como amores impossíveis e vilões bem definidos, a novela "Além do Tempo" foi outro acerto do horário das 18 horas. Mesmo tradicional, a história não deixou de ousar ao ser contada em duas épocas, distantes cerca de 150 anos no tempo. A conexão entre os períodos, contada a partir da reencarnação dos personagens, mostrou ser eficiente para prender a atenção do público, que , de quebra, ainda foi presenteado com ótimas atuação do elenco, especialmente das grandes Irene Ravache e Ana Beatriz Nogueira. A direção inspirada de Rogério Gomes e equipe também merece elogios.

9) Demolidor

Produção do Netflix, "Demolidor" estabeleceu um novo patamar para as séries de super-heróis. Mais soturna, violenta e profunda do que o habitual, a produção, feita em parceria com a Marvel, acertou ao expor as muitas camadas e conflitos de Matthew Murdock (Charlie Cox), o advogado que, além de acreditar na força da lei, também decide atuar como um vigilante pelas ruas de Hell´s Kitchen, em Nova York. Seu principal alvo é uma guerra de gangues que envolve Wilson Fisk (o ótimo Vincent D´Onofrio), que luta para manter seu poder na região. História bem contada, ganchos interessantes e bons vilões marcaram a produção, que vai ganhar nova temporada em 2016.

10) Game of Thrones

Ousada e surpreendente, "Game of Thrones" fez barulho em 2015. A disputa entre famílias pelo trono de ferro de Westeros esteve, mais uma vez, recheada de trapaças, violência, ganância e, claro, sexo. Os bons momentos da quinta temporada envolveram o encontro de Daenerys (Emilia Clarke) e Tyrion Lannister (Peter Dinklage), a punição de Cersei (Lena Headey) pelo grupo religioso Fé dos Sete, e a possível morte de Jon Snow (Kit Harington), gancho deixado para a nova temporada e que já levanta muitas teorias. A produção continuou mostrando, também, que tem um cuidado especial com a qualidade da história que é levada ao ar. A falta de piedade dos roteiristas é um ingrediente especial, que rende muitos debates sobre o próximo personagem a ser sacrificado nessa história, onde ninguém é intocável.

11) Felizes para Sempre?

Lá no início do ano, a minissérie "Felizes para Sempre?" apresentou uma trama que fugiu do óbvio e falou do amor sob diversos ângulos, que foram além do tradicional ideal romântico. Os bons diálogos e as situações-limite encaradas pelos personagens mostraram que o amor pode vir acompanhado de vingança, insatisfação e, até mesmo, de poder. O olhar cinematográfico do diretor Fernando Meirelles fez a diferença, com planos mais abertos e mais movimento de câmeras. O elenco ótimo e a trilha sonora de bom gosto ajudaram a dar o clima da série. A produção evidenciou, inclusive, que o gênero deveria ter mais espaço na nossa televisão.

12) The Blacklist

A relação, cada vez mais, estreita entre a agente Elizabeth Keen (Megan Boone) e o bandido Raymond Reddington (James Spader) ganhou novos contornos na terceira temporada de "The Blacklist". A história, que exige atenção total do espectador, retornou mais cheia de nuances e focando na perseguição à dupla, depois que Keen foi acusada de um crime que não cometeu e passou a ser cassada pelos colegas do FBI. Com muitos mistérios já revelados, especialmente sobre a ligação de Elizabeth e Reddington, a série tem conseguido manter alto o nível de tensão e apostando em bandidos com histórias interessantes. Ainda não dá para entender o motivo de James Spader não ter vencido nenhum prêmio de melhor ator pelo papel, mas isso ainda pode ser corrigido.

13) Tá no Ar

Lá no início do ano, "Tá no Ar - A TV na TV" renovou o humor apresentada pela TV Globo e que, estimulou, inclusive, as mudanças no "Zorra Total", que deixou o formato de bordões e piadas sem graça para ganhar um viés mais anárquico. "Tá no Ar" segue essa mesma linha e é amparado por um humor inesperado e inteligente, que flerta com o absurdo e cumpre bem o papel de divertir. A tentativa de fazer graça com a programação da nossa televisão rendeu bons momentos ao programa, especialmente com os quadros "Jardim Urgente", "Galinha Preta Pintadinha" e afins, e as tirações de sarro com o mundo das celebridades.  Até o nome de outras emissoras, algo impensável na Globo há alguns anos, foi alvo das piadas do grupo.

14) Amores Livres

Dirigida por João Jardim e exibida no GNT, a série documental "Amores Livres" mostrou que o amor é um sentimento muito mais complexo e abrangente do que o clichê do ideal romântico, e que pode ser sentido de diversas formas, que, muitas vezes, fogem do padrão comportamental. A série, delicada e bem conduzida, tratou de relacionamentos amorosos que vão além do clássico casal marido e mulher e podem envolver três, quatro ou mais pessoas. Falando sobre monogamia, poliamor e liberdade sexual, a série despertou a curiosidade do público ao tratar o tema com seriedade e leveza.

15) Jessica Jones

Aproveitando o caminho aberto por "Demolidor", o Netflix estreou "Jessica Jones", uma heroína totalmente desajustada e diferente dos padrões clássicos impostos pelos uniformes e capas de alguns representantes da categoria. Traumatizada e cheia de camadas, a protagonista conquistou um espaço pouco explorado, o das mulheres como centro das atenções em histórias baseadas em quadrinhos, e fez bonito. Narrativa bem contada, direção precisa, fotografia bem pensada, tudo conta a favor de "Jessica Jones". A complexidade da personagem é o ponto mais interessante da trama, já que quebra os padrões de virtudes atribuídas aos heróis e mostra fragilidades e fraquezas de Jessica. É, com certeza, se você ainda não viu, uma série que vale a pena.

16) Pé na Cova

Das séries brasileiras, "Pé na Cova" está entre as melhores. Isso é possível graças ao texto de Miguel Falabella, irônico e inteligente, e ao elenco sensacional, que empresta talento aos tipos excêntricos criados pelo autor. As piadas e situações apresentadas são rápidas e absurdas e, de um jeito muito sutil, provocam reflexões sobre a vida e diversas questões sociais. Além de Falabella (hilário), os coadjuvantes ajudam a dar sustentação à trama, valendo destacar os trabalhos de Eliana Rocha, Sabrina Korgut, Niana Machado, Rubens de Araújo e Alexandre Zacchia. A série tem, ainda, Maríilia Pêra, falecida em 2015, que fez de Darlene uma das melhores personagens de sua carreira. "Pé na Cova" entra na última temporada no ano que se inicia.

17) The Good Wife

Mesmo com imprevistos, que forçaram mudanças na história, justiça seja feita, "The Good Wife" sempre foi uma série que figurou entre as melhores da televisão, mesmo não sendo tão popular quanto outros dramas do gênero. Em 2015, tivemos o encerramento da sexta temporada, com a retirada de mais um personagem importante, e o início do sétimo ano que, até o momento, vem mostrando uma trama interessante sobre o recomeço (mais um!) de Alicia Florrick (Julianna Margulies, excelente). A adição de novos personagens serviu para dar um frescor à trama, oxigenando, ainda, enredos antigos. Para quem gosta de séries sobre direito e política, com certeza, não dá para perder nenhum episódio.

18) Verdades Secretas

Tirando o texto ruim de Walcyr Carrasco, que também levou a novela a estar entre os piores do ano, "Verdades Secretas" aparece por aqui, primeiro, pela direção primorosa de Mauro Mendonça Filho e equipe, que conseguiram emprestar um olhar cinematográfico à produção, o que proporcionou belas cenas com enquadramentos e iluminações diferenciadas. Na cenas em que era necessário imprimir realismo, como as feitas na Cracolândia, a direção acertou em cheio na ambientação e na pós-produção. Outro ponto que vale ser reconhecido é o tratamento dado a temas considerados polêmicos, como sexo, drogas, prostituição e homossexualidade. A novela só não foi além por conta do texto limitado e explicativo do autor. Por fim, é importante destacar o trabalho de alguns atores, como Grazi Massafera, Marieta Severo e Drica Moraes, que, mesmo diante de um roteiro cheio de falhas, chamaram atenção pelos desempenhos.

19) How To Get Away With Murder

Se teve uma atriz que chamou a atenção em 2015, ela foi Viola Davis, a protagonista de "How To Get Away With Murder", série que encerrou a primeira temporada e iniciou a segunda nesse ano que chega ao fim. Intensa, forte e com um olhar que "engole" o espectador, Viola já fez da advogada Annalise um dos grandes personagens da televisão mundial. Como se não bastasse o desempenho da atriz, a produção, assinada por Shonda Rhimes, tem um texto inteligente e instigante, cheio de ganchos e mistérios que prendem o público. Uma das grandes séries dos últimos anos, que deu mais visibilidade a uma das maiores atrizes do mundo.

20) A Regra do Jogo

A novela de João Emanuel Carneiro pode não ser o sucesso que a TV Globo esperava, mas, com certeza, é um dos acertos do ano. Com uma trama instigante e inteligente, o autor exige do público atenção total para que possam ser percebidas as diversas nuances dessa história, que propõe uma desconstrução do maniqueísmo, mesclando sentimentos opostos em personagens que não podem ser taxados somente de bons e maus. Tentada a se tornar mais popular, a novela até andou cedendo às críticas de que era complexa demais e quis tornar alguns enredos mais explicativos. Graças a Deus, essa fase durou pouco e o folhetim voltou a assumir suas características originais. O enredo sobre a atuação de uma facção criminosa, que está presente em diversos meios e classes sociais, propõe um debate muito interessante sobre o cotidiano e a política do país em que vivemos. E, para completar, "A Regra do Jogo" ainda tem um elenco espetacular, com destaque para Giovanna Antonelli, Alexandre Nero, Tonico Pereira, José de Abreu, Tony Ramos, Cássia Kiss e Deborah Evelyn. Vitória na guerra!

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