Contratações de peso são armas do Netflix contra concorrência acirrada no streaming

Ryan Murphy e Shonda Rhimes

A crescente força da produção de conteúdo nos serviços de streaming parece um caminho sem volta, por mais que canais e estúdios de Hollywood tentem investidas contra o setor. Pensando nesse cenário o Netflix, por enquanto o mais famoso desse nicho, anunciou a contratação milionário do produtor, diretor e roteirista Ryan Murphy, que vai desenvolver conteúdos exclusivos para a plataforma a partir de julho, com o fim do contrato dele com a Fox.
Murphy é um dos nomes mais conhecidos e festejados da televisão norte-americana, responsável por sucessos como "Glee" e "American Horror Story". A contratação dele representa mais um movimento do Netflix para se "armar" contra a concorrência do mercado. Isso porque, além do Amazon Prime, Hulu e do HBO GO, este último agora oferecido também para quem não é assinante de TV paga, o Netflix vai passar a enfrentar logo a plataforma de streaming da Disney, que promete, inclusive, retirar conteúdo do catálogo da maior concorrente.
No ano passado, o Netflix já tinha dado outro passo importante nessa "guerra" do streaming. O anúncio da contratação de Shonda Rhimes, um dos nomes mais badalados da televisão, acertou em cheio a principal futura concorrente, a Disney, já que os sucessos de Shonda estão atualmente no canal ABC. Não há, no entanto, sinal de que o novo acordo interfira nas séries que já estão no ar. "Grey´s Anatomy", por exemplo, foi renovada por mais dois anos e a produtora ainda deve estrear, em março, uma nova atração, a série "For The People".
Independente dessa disputa, a ida de Murphy e Shonda para o Netflix abre novos universos criativos de possibilidades para o serviço de streaming. Isso porque o primeiro está na melhor fase, após tropeços e exageros de conceitos em produções anteriores. Já Shonda parece uma máquina de fazer sucessos, reinando absoluta no seu TGIT (Thank God It´s Thursday), horário nobre do canal ABC.
Para quem quer conhecer ou rever alguns dos bons trabalhos da dupla de contratados do Netflix, listei seis produções, três de cada um deles, que podem dar uma ideia do que está por vir no serviço de streaming:

1) FEUD

Disparado, é a melhor série que Ryan Murphy já produziu para a TV. Seguindo a linha das antologias, com uma história diferente a cada temporada, "Feud" trouxe, no primeiro ano, uma lendária briga de Hollywood entre as atrizes Bette Davis e Joan Crawford, vividas com maestria por Susan Sarandon e Jessica Lange, injustamente ignoradas na temporada de premiações. A série recria algumas das principais rixas entre as atrizes, além de revelar um lado mais obscuro do show business, que dá poucas oportunidades para intérpretes mais maduras, mesmo que elas tenham talento e prêmios de sobra. A série ainda promete retratar novos conflitos famosos, como a relação conflituosa entre a Princesa Diana e o Príncipe Charles. Ainda não há data oficial para a estreia da segunda temporada.

2) GREY´S ANATOMY

A série médica criada por Shonda Rhimes está no ar há 14 anos e continua em alta na televisão, mesmo com a troca constante do elenco e algumas temporadas irregulares e de menos fôlego. Depois de perdas importantes, como as de Sandra Oh e Patrick Dempsey, que faziam personagens centrais, e de certo desgaste nos conflitos envolvendo a protagonista, Meredith (Ellen Pompeo), a atração retomou o prumo e vem apresentando novos bons momentos. Apesar desses escorregões, "Grey´s Anatomy" conseguiu manter a relevância no mercado ao longo dos anos, tanto que manteve os índices de audiência altos para o canal ABC. A produção, inclusive, foi considerada uma das preferidas dos assinantes do Netflix para maratonas, mostrando que tem o aval do público da nova "casa" de Shonda.

3) 9-1-1

Ryan Murphy decidiu entrar no segmento de séries policiais, médicas e de bombeiros. O detalhe interessante disso é que o produtor mirou as três fatias do mercado de uma só vez e criou "9-1-1", atração que aborda emergências a partir de vários pontos de vista. Após o primeiro contato na central telefônica de emergência, a série mostra o trabalho de bombeiros, paramédicos e policiais de Los Angeles às ocorrências. Apesar de ainda deixar um pouco a desejar em relação aos dramas pessoais dos personagens, a série consegue criar boas histórias de atendimentos de emergência e prende a atenção. O resultado também foi considerado bom pela Fox, que encomendou uma temporada completa da nova aposta de Murphy.

4) SCANDAL

Shonda Rhimes vai encerrar o ciclo de "Scandal" nos próximos meses, com o final da sétima temporada da série. Mesmo assim, vale a pena investir tempo nos conflitos de Olivia Pope (Kerry Washington), a solucionadora de crises mais eficiente da capital dos Estados Unidos. Quem nunca assistiu vai ver as diversas conspirações políticas que envolvem a Casa Branca e aqueles que desejam chegar lá e, quem já acompanha a atração, está vendo uma transformação da protagonista, que abandonou a intenção de ajudar os outros e se tornou uma perigosa figura da nação, inclusive para si mesma. Mesmo tendo perdido fôlego, especialmente nas duas últimas temporadas, ainda é um bom entretenimento acompanhar os bastidores do poder em Washington pelo olhar de Shonda Rhimes.

5) AMERICAN CRIME STORY

Murphy não esconde a preferência por antologias e, além de "Feud" e "American Horror Story", o produtor ainda criou "American Crime Story", que traz sempre a história de um crime real diferente a cada temporada. Depois de um elogiado e premiado primeiro ano sobre o julgamento de O.J. Simpson, a série voltou ao ar, neste ano, contando os acontecimentos que levaram ao assassinato do estilista Gianni Versace, nos anos 90. Com um ótimo elenco e um roteiro inteligente, Murphy mostrou maturidade como criador e deixou para trás muitos dos exageros dramatúrgicos vistos em seus primeiros trabalhos. Hoje, ele deixa esse conceito para a estética da série, equilibrando esse fator com o roteiro sólido.

6) HOW TO GET AWAY WITH MURDER

Atualmente na quarta temporada, "How To Get Away With Murder" tem o "dedo" de Shonda Rhimes, mesmo que ela não esteja à frente da criação. Produtora-executiva, ela ajudou o criador, Peter Nowalk, a estruturar o drama da advogada Annalise Keating (Viola Davis) que parece atrair situações extremas para seu cotidiano pessoal e profissional. Depois de uma ótima temporada de estreia, a série oscilou no segundo ano, mas recuperou o fôlego na temporada seguinte, trazendo, inclusive, uma inesperada reviravolta. Agora, no quarto ano, a produção tem mostrado uma trama sólida, que prende a atenção e consegue se reinventar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mesmo com protagonista descaracterizada, "Gabriela" foi bom entretenimento

Final de "Revenge" decepciona e desvaloriza confronto entre protagonistas

The Blacklist apresenta novo gancho para trama central e introduz spin-off arriscado