"Bridgerton" é passatempo com personagens carismáticos e pouca criatividade

Divulgação/Netflix


Quando acessamos os catálogos dos serviços de streaming, nem sempre procuramos séries elaboradas, com tramas e personagens complexos. Muitas vezes, só estamos atrás de um entretenimento leve, uma história simples que nos faça embarcar em uma maratona. Para quem está nessa busca, "Bridgerton", a primeira produção com assinatura de Shonda Rhimes para a Netflix, pode ser uma boa escolha, mesmo com um problema criativo que impede a série de ir além.

Inspirada em uma série de livros da autora Julia Quinn, "Bridgerton" é ambientada na Inglaterra do século 19 e tem início com a apresentação de jovens debutantes à sociedade. Na abertura da temporada de bailes e eventos sociais, quem mais se destaca é Daphne Bridgerton (Phoebe Dynevor), que chama a atenção de pretendentes e da rainha Charlotte (Golda Rosheuvel), que vê na garota a candidata ideal a esposa do príncipe Friederich (Freddie Stroma).

Ao contrário do costume da época, Daphne quer escolher um noivo seguindo o coração e, mesmo com o apoio da mãe (Ruth Gemmell), tem que enfrentar o irmão Anthony (Jonathan Bailey), que negocia o casamento da irmã com um homem que ela não ama. Para atrasar a decisão, a jovem firma um acordo com Simon (Regé-Jean Page), o duque de Hastings, que deseja sair do radar das debutantes durante a temporada.

Avesso ao casamento, o duque aceita fingir interesse por Daphne até que a jovem encontre um pretendente à altura. A farsa precisa ser muito convincente, uma vez que toda a sociedade é alvo de um jornal publicado por Lady Whistledown (voz de Julie Andrews), uma mulher misteriosa que usa o pseudônimo para revelar detalhes da vida íntima dos personagens.

Sustentada por uma base melodramática, comum aos folhetins, "Bridgerton" apresenta uma primeira temporada de história simples e sem grandes reviravoltas. Esse "arroz com feijão" inegavelmente funciona, mas a carência de criatividade do roteiro é evidente. A forma como as tramas são conduzidas é muito previsível e os desfechos não chegam como forças da narrativa. A relação entre Daphne e o duque; o relacionamento de Anthony com uma mulher mal vista pela sociedade; os conflitos causados pela gravidez precoce de Marina (Ruby Barker); e a revelação da identidade de Lady Whistledown são exemplos da falta da inspiração da série.

Divulgação/Netflix

A produção conta, no entanto, com uma característica que minimiza o impacto dessa falta de criatividade do roteiro: o carisma dos personagens. Bem desenhados pelos roteiristas e interpretados pelos atores, eles conquistam a simpatia e a torcida dos espectadores, que facilmente se envolvem nas histórias simples e nos dilemas sentimentais.

"Bridgerton" tem, ainda, algumas qualidades estéticas que saltam aos olhos. A produção de arte é muito caprichada; os figurinos são luxuosos; e a trilha sonora, que transforma hits pop em som instrumental, se mostra uma escolha acertada.

A escalação do elenco foi responsável pela principal polêmica envolvendo a série. Atores negros e asiáticos foram escolhidos para interpretar papeis de nobres, algo que não aconteceu na fase que antecede a era Vitoriana. Uma das críticas que li é que essa opção torna a trama inverossímil e deixa a impressão de uma tentativa de maquiar características da sociedade naquele período histórico.

É preciso lembrar que "Bridgerton" é ficção de época e não um drama histórico, portanto, a alta sociedade da série não precisa ser formada apenas por brancos, como ocorreu na nobreza do século 19. Essa diversidade é, inclusive, justificada textualmente em um dos episódios, quando um dos personagens explica que a rainha, uma mulher negra, distribuiu títulos de nobreza com a intenção de tornar a corte mais plural. Particularmente, acho a escalação um acerto e, nesse contexto, não vejo que ela exerça uma função de modificação histórica.

Parecendo uma mistura da literatura de Jane Austen com "Scandal", "Bridgerton" traz uma história simples, enriquecida pelo carisma dos personagens e pela produção caprichada. É inegável que a série sofre de falta de criatividade, mas o impacto disse acaba minimizado pelas qualidades. Para aqueles que buscam leveza no streaming, esse é um bom passatempo.

BRIDGERTON (primeira temporada)

ONDE: Netflix (todos os episódios disponíveis)

COTAÇÃO: ★★★ (boa)

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