"Lupin" acerta com narrativa em tom de homenagem e carisma de Omar Sy

Divulgação/Netflix

Dar novas formas e características a histórias clássicas talvez seja a forma mais óbvia de adaptá-las para um contexto mais atual. Os criadores de "Lupin", série francesa disponível no catálogo da Netflix, escolheram outro caminho ao fazerem da produção uma homenagem ao personagem Arsène Lupin, o famoso "Ladrão de Casaca", criado pelo escritor Maurice Leblanc, e conseguiram com isso um resultado mais inspirado e interessante, também alcançado graças ao carisma do ator Omar Sy, escolhido para o papel de protagonista.

Nos cinco episódios da primeira temporada de "Lupin", conhecemos Assane Diop (Sy), um ladrão especialista em disfarces que planeja um roubo ao Museu do Louvre, em Paris. O foco da empreitada é um colar que vale milhões e pertence à família Pellegrini, que afirma ter recuperado a joia após a mesma ter sido roubada de um cofre anos antes.

Além da incrível habilidade de se disfarçar e interpretar personagens, Diop ainda conta com uma lábia que convence qualquer pessoa, característica que o ajuda a despistar as autoridades e sair do museu com o colar. O estilo do roubo chama a atenção do detetive Youssef (Soufiane Guerrab), fã declarado dos livros de Arsène Lupin que vê semelhanças entre o ladrão que procura e o da ficção, apesar de nenhum outro colega policial acreditar nele.

O objetivo de Diop com o roubo revela-se muito maior do que apenas uma forma de conseguir dinheiro. Quando criança, ele viu o pai ser preso por uma acusação de ter furtado o mesmo colar. Hubert Pellegrini (Hervé Pierre) se empenhou pessoalmente para condená-lo e fez com que o protagonista ficasse sozinho no mundo.

Diop concilia a vida no mundo do crime com a rotina de pai, nem sempre cumprida plenamente. Muitas vezes, sacrifica os momentos com o filho Raoul (Etan Simon) por conta da atividade paralela, o que incomoda a ex-esposa Claire (Ludivine Sagnier). Mesmo assim, eles constroem uma relação de respeito e amizade.

Divulgação/Netflix

Com pouca ou nenhuma repercussão antes da estreia, "Lupin" surgiu como uma grata surpresa e se transformou em um sucesso instantâneo da plataforma de streaming. Um dos fatores que justifica isso é a opção de criar uma história que homenageia a obra de Maurice Leblanc, ao invés de simplesmente adaptá-la para os dias de hoje.

Os livros do "Ladrão de Casaca" aparecem na série como uma inspiração para as situações e personagens criados pelo roteiro. A obra de Leblanc representa uma ligação afetiva entre Diop e o pai, servindo de inspiração para o plano de vingança, orientação e até consolo nos momentos difíceis. O fascínio por Arsène Lupin também é um elo do protagonista com o filho, que absorve o interesse por essas histórias.

A opção por construir "Lupin" dessa maneira faz toda a diferença para o resultado final. A homenagem torna a narrativa mais despretensiosa e divertida, retirando dela o peso de ser uma mera adaptação que repete clichês. Dos disfarces aos roubos mirabolantes, passando pela utilização de personagens e recursos comuns nesse gênero, tudo ali ganha um ar de reverência a uma forma de contar histórias.

Outro fator que justifica o sucesso da série é a escolha certeira de Omar Sy para protagonista. O ator tem um carisma impressionante e é presença marcante em todos os trabalhos que faz, como, por exemplo, no filme "Intocáveis". Na série, empresta essa característica para Assane Diop, tornando as habilidades e a lábia do personagem muito naturais e cativantes.

Com novos episódios já confirmados para esse ano, "Lupin" rende uma ótima maratona, embalada por uma história divertida e que faz homenagem à obra de Maurice Leblanc e, por tabela, a todo um gênero literário. Essa qualidade é aliada ao carisma de Omar Sy, que preenche a tela e dá ao ladrão fanático por Arsène Lupin uma personalidade mais contagiante.

LUPIN (primeira temporada)

ONDE: Netflix (todos os episódios disponíveis)

COTAÇÃO: ★★★★ (ótima)

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