Tempo, tempo, tempo, tempo

O tempo não para e a vida segue seu fluxo. No último capítulo de "A Vida Da Gente", exibido nesta sexta-feira (2), pela TV Globo, o público pode assistir a um final de novela diferente dos muitos que já foram apresentados. Ao invés de querer resolver rapidamente todas as tramas, "A Vida Da Gente" apostou na máxima que diz que "o tempo é o senhor da razão".
No capítulo, a cirurgia que salva a vida da pequena Júlia (Jesuela Moro) é um sucesso. O fato provoca a reconciliação do quarteto Ana (Fernanda Vasconcellos), Manuela (Marjorie Estiano), Rodrigo (Rafael Cardoso) e Lúcio (Thiago Lacerda). Amadurecidos pela vida, os quatro conseguem resolver suas mágoas do passado e seguir em frente. Numa bela cena, Ana e Rodrigo escrevem um ao outro para "virar a página" e começar um novo capítulo em suas histórias.
O tempo, personagem mais atuante e invisível da trama, mostrou que ninguém muda de uma hora para outra, como gostam de fazer os habituais últimos capítulos de outras novelas. As megeras Vitória (Gisele Fróes) e Eva (Ana Beatriz Nogueira) não mostraram arrependimento ou redenção, mesmo esta última demonstrando um pequeno gesto de deferência para sua filha Manuela. Jonas (Paulo Betti) continuou sendo um homem ausente e frio, sem qualquer sinal de crescimento ou mudança. O momento clássico de arranjar novos amores para alguns personagens também foi diferente do habitual, já que a autora construiu as cenas para que o espectador não tivesse certeza que o casal seria feliz para sempre.
"A Vida Da Gente" carregou no dramalhão, se diferenciando das tramas mais "água com açúcar", comuns ao horário das 18h. A autora Lícia Manzo apostou em diálogos bem construídos e personagens complexos, com histórias de vida conturbadas. Acho até que, muitas vezes, a autora se aproximou do estilo de Manoel Carlos, que também escreve novelas mais focadas no cotidiano dos personagens.
O êxito da novela também se deve ao elenco, todo muito bom. As protagonistas Fernanda Vasconcellos e Marjorie Estiano estiveram melhores do que nunca. Ana Beatriz Nogueira (como sempre, diga-se de passagem) e Gisele Fróes foram impecáveis com suas mulheres ressentidas e amarguradas. Nicette Bruno, Regiane Alves, Maria Eduarda, Malu Galli, Leonardo Medeiros, Leona Cavalli, Stênio Garcia, Luiz Serra e Cláudia Mello também merecem destaque por suas ótimas atuações.
Como já escrevi por aqui, "A Vida Da Gente" deixou sua marca na dramaturgia como uma novela cuja a história não era desencadeada por um ou outro personagem, mas sim pelo tempo. E ele, só ele, foi responsável pelas viradas e desfechos dos personagens durante a trajetória da trama. No último capítulo, não foi diferente. Ali, o fim parecia fazer sentido apenas para o telespectador, porque, para os personagens, era só mais um dia, que seria seguido de outro, de outro, de outro. Tempo, tempo, tempo, tempo.

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