"Além do Tempo" termina sem a mesma força da primeira fase

Divulgação/TV Globo
Mesmo que inovadora, a tarefa da autora Elizabeth Jhin era árdua. Depois de uma ótima primeira fase, que se passava no século XIX e durou metade do folhetim, a novelista precisava arrumar uma forma de reconquistar a atenção do público, que seria apresentado, praticamente, a uma nova novela e personagens com características diferentes. Com a exibição do último capítulo, nesta sexta-feira (15), "Além do Tempo" mostrou que, mesmo conservando boas qualidades da primeira metade, sentiu os efeitos da decisão de criar uma "nova" história.
A segunda fase da trama das 18 horas se passou no sul do Brasil, nos dias atuais, e voltou a contar a história de amor de Lívia (Alinne Moraes) e Felipe (Rafael Cardoso), que, 150 anos antes, tiveram seu romance interrompido por uma tragédia. Reencarnados, eles voltam a se encontrar e enfrentam rivalidades já conhecidas para ficarem juntos. Além das maldades da vilã Melissa (Paolla Oliveira), inconformada com o fim do casamento do Felipe, o casal ainda sofreu com as investidas de Pedro (Emílio Dantas), que tentou sequestrar o filho do rival para atingi-lo.
Repetindo a sequência final da primeira fase, os quatro têm seus destinos selados no alto de um penhasco. Desta vez, Pedro atira em Felipe, o que faz com que ele e Lívia caiam. O casal, no entanto, consegue se segurar em uma pedra. Pedro, então ameaça facilitar a queda dos protagonistas, mas é impedido por Melissa, que acaba atirando nele depois de uma luta. A vilã arrependida ainda ajuda Lívia e Felipe, puxando o casal para cima, graças a uma "mãozinha" do anjo Ariel (Michel Melamed), que cumpre sua missão com o casal.
Ainda na segunda fase, a autora resgatou os conflitos inacabados entre Vitória (Irene Ravache) e Emília (Ana Beatriz Nogueira), agora mãe e filha separadas pelo ressentimento de Alberto (Juca de Oliveira). Depois de prejudicar Vitória, por acreditar que a mãe a abandonou na infância, Emília descobre as mentiras do pai, que acaba morrendo arrependido de ter separado as duas. Ela e Vitória, então, se reconciliam, resolvendo todas as pendências acumuladas, inclusive, da vida passada. Emília termina ao lado de Bernardo (Felipe Camargo), um amor também trazido da encarnação anterior.
Divulgação/TV Globo
Passada em dois períodos diferentes, "Além do Tempo" mostrou unidade ao apostar em um folhetim clássico, com histórias de amor, vingança, desencontros e ódio, temas marcantes ao gênero. É preciso, no entanto, analisar a novela separadamente. Na primeira fase, auxiliada pelo charme da ambientação de época, a trama apresentou uma história mais cativante ao público, com conflitos mais interessantes entre os personagens.
Agora, na segunda fase, "Além do Tempo" acabou cedendo a uma certa monotonia, com enredos repetitivos, que cansaram o público. Cenas e situações semelhantes tornaram-se recorrentes, assim como os diálogos, menos criativos do que na primeira metade do folhetim. Os ganchos utilizados para fazer a conexão entre o século XIX e os dias atuais, pontuados por flashbacks e diálogos sobrepostos às cenas atuais, foram utilizados à exaustão.
Nem tudo mostrou-se um equívoco, no entanto, na segunda fase de "Além do Tempo". Além de inovar dividindo a história em dois períodos, de igual importância para o folhetim. a novela acertou ao alterar as características dos personagens. Assim, o público precisou se familiarizar novamente com muitos dos tipos. Vitória, por exemplo, depois das maldades da primeira fase, voltou como uma mulher sofrida, castigada por erros do passado e pelo remorso de ter abandonado o ex-marido e a filha. Já Emília, depois de sofrer nas mãos da então Condessa Vitória, volta com a intenção de se vingar da mãe, que a deixou para viver uma história de amor.
É preciso destacar que uma das grandes qualidades de "Além do Tempo" foi o elenco. Atores excelentes, como Irene Ravache, Ana Beatriz Nogueira, Juca de Oliveira, Nívea Maria, Júlia Lemmertz, Othon Bastos, Paolla Oliveira, Inês Peixoto, Luiz Carlos Vasconcelos e Louise Cardoso deram, ao público, prazer em acompanhar o folhetim. Vale aqui fazer menção às cenas finais de Irene Ravache e Ana Beatriz Nogueira, que, com a ajuda do texto, emocionaram.
Ótima na primeira fase, "Além do Tempo" acabou sendo prejudicada pela mudança de tempo da história, o que fez com que o folhetim sofresse com repetições. Mesmo sem a mesma força dos capítulos que se passaram no século XIX, "Além do Tempo" pode ser considerada uma boa novela, que propôs um novo jeito de se contar uma história tão tradicional. 

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