Personagens complexos dão tom da estreia de "Billions"

Tornou-se uma tendência na televisão americana. Ao invés do tradicional maniqueísmo, as produções de dramaturgia têm apostado em personagens complexos, que surgem no centro de tramas e fogem dos habituais conceitos de "bem" e "mal". No último domingo (17), a TV ganhou mais um drama que procura aprofundar o entendimento sobre os tipos retratados pela história. 
Em "Billions", produção do canal Showtime, somos convidados a mergulhar no mundo do mercado financeiro norte-americano e dos grandes investimentos. Em Nova York, o procurador de justiça Chuck Rhoades (Paul Giamatti) adota uma postura dura e incorruptível em suas ações. Para ele, não parece haver diferença no tratamento de traficantes das ruas ou dos geralmente intocáveis bandidos "do colarinho branco", presentes nos círculos influentes de Wall Street. 
Marcado pelo fato de não ter perdido nenhum ação desde que assumiu o cargo, Rhoades é procurado para investigar os negócios de Bobby Axelrod (Damian Lewis), um executivo renomado que prosperou no ramo de investimentos de alto risco. Suas táticas e movimentos, que o fizeram ser um homem visado, levantam suspeitas sobre os métodos empregados em suas aquisições, que poderiam envolver informações privilegiadas.
Mostrando ser um estrategista, Rhoades decide agir com cautela ao investigar Axelrod, para que não tenha a opinião pública contra ele, já que o executivo parece ser considerado uma grande personalidade pela população. No primeiro episódio, o embate entre os personagens se dá "nos bastidores", movido por boatos e informações plantadas. 
A relação entre os personagens se aproxima quando a história revela que Wendy Rhoades (Maggie Siff), a mulher do procurador, trabalha no aconselhamento psicológico da empresa de Axelrod e se mostra, inclusive, uma confidente do executivo, auxiliando-o em questões pessoais e profissionais. A profissional parece familiarizada, também, com um dos grandes episódios da vida do personagem: o fato de ele ter sobrevivido aos ataques terroristas de 11 de Setembro, enquanto seus sócios não tiveram a mesma sorte. 
Apesar de ser mais uma série a apostar em tramas de personagens complexos, "Billions" executa bem a tarefa de expor as nuances da história. O roteiro, bem amarrado e eficiente, deixa claro que qualquer julgamento simples sobre aqueles tipos pode ser um equívoco. Axelrod, por exemplo, apresenta um lado afetuoso com a família e os filhos dos ex-sócios mortos e, em seguida, "veste" a persona de alguém frio, calculista e vaidoso, movido por dinheiro e poder. Da mesma forma, o incorruptível procurador mostra que as pessoas podem ser muito mais do que mostram aos outros quando chega em casa e se deixa render às fantasias sadomasoquistas que tem com a esposa. Esse tipo de complexidade também é ensaiada com a esposa de Axelrod, Lara (Malin Akerman), que, por trás de uma aparência doce, pode esconder uma mulher capaz de ir às últimas consequências para defender o marido.
Além da boa história, "Billions" traz Paul Giamatti de volta à TV, excelente como o procurador ávido para colocar os bandidos do mercado financeiro na cadeia. Sem dúvida alguma, grande parte da força da série se deve à precisão e firmeza do ator, irretocável como de costume. Já a escalação de Damian Lewis, apesar de bem no papel, parece ser um pouco preguiçosa. Recém-saído de "Homeland", produção do mesmo canal em que também interpretou um personagem marcado por nuances complexas, a presença do ator deixa uma sensação de repetição, mesmo que as situações não se pareçam.
Com uma boa e instigante estreia, é difícil dizer se "Billions" vai conseguir cativar o público com personagens e tramas complexas dessa forma. No cenário televisivo atual dos Estados Unidos, em que abordagens desse tipo sobre as histórias tornaram-se comuns, parece cada vez mais importante observar onde a criatividade do roteiro vai levar a produção. Por enquanto, ainda merece a atenção do espectador.

BILLIONS (primeira temporada)

COTAÇÃO DA ESTREIA: ★★★ (boa)


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