100 anos de Chacrinha - O gênio da comunicação que não se encaixaria mais na TV de hoje

Divulgação/TV Globo
Ele nasceu Abelardo Barbosa, mas revolucionou a comunicação de massa brasileira como Chacrinha. Um palhaço irreverente, um animador incomum, um Velho Guerreiro. Com uma cartola, uma buzina e uma peça de bacalhau, ele quebrou paradigmas, desconstruiu regras e formatos e, como poucas vezes se viu, falou e retratou o Brasil.
Dos grandes apresentadores brasileiros, onze em cada dez deles citam Chacrinha como referência. Nenhum, no entanto, conseguiu ser tão anárquico ou tão inspirado. Nem mesmo a naturalidade do Velho Guerreiro conseguiu ser atingida, apesar de algumas tentativas para isso. Em frente a uma câmera por horas, comandou um picadeiro caótico que mostrou a música, os tipos, a irreverência e a alegria de um povo que quase nunca se vê retratado na televisão.
Neste mês de setembro, Chacrinha faria 100 anos de idade, se estivesse vivo. Por conta disso, a TV Globo exibiu, nesta quarta-feira (6), uma homenagem ao apresentador, recriando o formato que o consagrou. Apesar de alguns momentos engraçados, o especial, que já foi ao ar no canal Viva, só reforçou que a televisão atual não daria espaço para um artista como ele.
Mesmo tentando repetir a atmosfera criada por Chacrinha, o programa se mostrou uma versão politicamente correta do original, que "fabrica" descontração e irreverência, características tão naturais ao Velho Guerreiro.
Por conta disso, decidi elencar cinco características que fizeram de Chacrinha esse revolucionário da comunicação e que só reforçam que a televisão de hoje não mereceria alguém como o Velho Guerreiro.

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1) ESTÉTICA

De uma forma geral, os programas de televisão sempre buscaram uma "perfeição" estética, tanto em relação ao cenário como aos enquadramentos das imagens. Esse padrão foi rompido por Abelardo Barbosa, que transformou o palco em um picadeiro que misturava adereços, cores, bailarinas e assistentes. Com uma plateia nada comportada, Chacrinha se movimentada pelo palco sem se preocupar com uma ordem ou marcação para enquadramentos. Isso fazia com que, constantemente, os câmeras e assistentes estivessem em foco, algo impensável ou rapidamente corrigido nos dias de hoje. O Velho Guerreiro se colocava no centro de um verdadeiro caos, mas que fazia todo sentido para ele.

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2) ESPAÇO MUSICAL

Os programas musicais já foram considerados os principais produtos da televisão brasileira, especialmente na época das transmissões dos festivais e de atrações históricas, como "O Fino da Bossa" e "Jovem Guarda". Os programas do Chacrinha também podem ser considerados grandes vitrines para a música brasileira. Um espaço no palco de Abelardo Barbosa era muito disputado e representava a certeza de que, no dia seguinte, qualquer música ali lançada estaria em todas as paradas de sucesso, conforme relatos de grandes artistas no documentário "Alô Alô Terezinha", que conta a trajetória do profissional. Hoje, o espaço musical foi reduzido drasticamente e se limita a poucos programas.

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3) IRREVERÊNCIA

Chacrinha desconstruiu a figura "intocável" do apresentador de televisão, sempre tão alinhado e elegante. O Velho Guerreiro se colocou no centro do palco para divertir o público e se aproximar dele, sem impor distâncias. Dava, frequentemente, as costas para a câmera e sabia se colocar de lado para que as atrações brilhassem, algo raro nos egos de hoje. Sabia provocar, quando necessário, e valorizada o povo brasileiro, acima de tudo, fazendo seus programas para essas pessoas.

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4) POLITICAMENTE INCORRETO

Em tempos tão tediosos em relação ao humor, como vivemos hoje, Chacrinha, com certeza, seria crucificado pelo tipo de humor que fazia em seus programas. Abelardo Barbosa não poupava calouros, jurados e convidados de gozações e piadas que seriam impensáveis na TV atual. Adepto de clássicas marchinhas de carnaval, como "Cabeleira do Zezé" e "Maria Sapatão", seria acusado, se ainda estivesse em cena, de homofóbico e desrespeitoso, algo que, claramente, não era seu objetivo. E, já pensaram se alguém jogassem legumes ou bacalhau na plateia hoje? Com certeza, apareceria algum grupo repudiando esse tipo de atitude. Não somos mais dignos do humor do Chacrinha.

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5) POPULARIDADE

Cabem nos dedos de uma mão os apresentadores que conseguem se conectar diretamente com o público e que valorizam o conceito de "popular". Esses poucos, no entanto, não chegam aos pés de Chacrinha, que não tinha vergonha de criar entretenimento para os espectadores. Sem uma linguagem rebuscada ou vergonha de falar com as massas, ele revolucionou a forma de se colocar em frente às câmeras. Foi um animador, o maior de todos. Divertia o público e, claramente, se orgulhava disso.

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