"American Crime Story" volta com equilíbrio entre estética marcante e roteiro bem construído

Em entrevista ao jornal The New York Times, em 2015, a estilista Donatella Versace, ao ser questionada sobre o trabalho feito na marca que leva o sobrenome da família, afirmou que ali não havia espaço para minimalismos. Isso dito para caracterizar as criações da Versace, não é de se espantar que o escolhido para contar uma marcante e trágica história envolvendo a empresa de moda seja  Ryan Murphy, profissional de televisão conhecido, especialmente por um tom marcante em suas produções, que, inclusive, já beiraram o exagero. Na segunda temporada de "American Crime Story", no entanto, ela mostra que soube construir um bom equilíbrio em suas tramas.
Seguindo a proposta de antologia da série, com uma história diferente a cada temporada, o segundo ano da produção recebeu o subtítulo "The Assassination of Gianni Versace" e já introduziu, no primeiro episódio, o espectador ao crime da trama. Construído em duas linhas temporais distintas, costuradas pelos acontecimentos, o roteiro começa apresentando uma parte da rotina do famoso estilista Gianni Versace (Edgar Ramirez), que vive em uma mansão na badalada Ocean Drive, em Miami, ao lado do namorado Antonio D´Amico (Ricky Martin).
Em uma manhã de 1997, após uma caminhada para comprar revistas em uma banca da região, Versace é surpreendido por Andrew Cunanan (Darren Criss), um homem que rondava a mansão do famoso estilista desde o início daquele dia. O assassinato, bem na porta da casa, logo chama a atenção da mídia, que se instala no local e registra a chegada da irmã de Gianni, Donatella Versace (Penélope Cruz), incumbida de tomar todas as providências sobre a morte do irmão e os negócios da família.
Na outra linha narrativa da série, o público descobre a ligação entre Versace e Cunanan, que estabeleceram uma ligação de interesse e desejo. No primeiro episódio, a série também começa a dar sinais sobre a construção da personalidade do assassino, procurando, já antes do crime contra o estilista, pelo FBI.
Já há algum tempo, Ryan Murphy vem mostrando que deixou para trás o exagero desnecessário presente em suas primeiras obras. Assim como em "Feud" e na temporada de "American Crime Story" dedicada a O.J. Simpson, o criador prova que soube "peneirar" seu estilo, descartando qualquer tipo de excesso sem descaracterizar seu senso estético. Agora, ele mantém o tom marcante e mostra um apurado olhar sobre a obra.
Presente na construção dos personagens e na estética, o tom marcante se une a um roteiro inteligente, que usa linhas temporais distintas para valorizar a trama e criar uma progressão do interesse pela história, aspecto fundamental, especialmente, levando-se em conta de que o crime já é bastante conhecido. Ainda é cedo para falar sobre o desenvolvimento da narrativa, mas o primeiro episódio mostrou bons diálogos e uma promissora construção de personagens.
Os destaques do elenco, na estreia, ficam por conta de Darren Criss, que pode surpreender como o criminoso da série; Edgar Ramirez, que mostrou semelhanças com Gianni Versace; e Penélope Cruz, que dá sinais de fugir de uma interpretação caricata da difícil figura da estilista.
Depois de um primeiro ano interessante, "American Crime Story" parece ter pela frente uma promissora temporada, que já mostrou, no primeiro episódio, um equilíbrio entre a personalidade marcante de Ryan Murphy para criar histórias e uma construção bastante competente do roteiro, que apresentou primeiros momentos curiosos e intensos.

AMERICAN CRIME STORY (segunda temporada)

THE ASSASSINATION OF GIANNI VERSACE

ONDE: FX

QUANDO: todas as quintas-feiras, às 23 horas

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