Cinco motivos para acompanhar a reprise de "A Vida da Gente"

Fotos: Divulgação/TV Globo


A rotina de produção de novelas inéditas ainda não voltou ao ritmo de antes da pandemia do novo coronavírus e, mesmo um ano depois do início dessa situação, seguem as dúvidas sobre a possibilidade de retorno nos moldes que eram adotados. Já é uma realidade para a TV Globo, por exemplo, exibir folhetins totalmente gravados, respeitando o andamento mais lento dos trabalhos por conta dos protocolos de segurança.
Diante desse cenário, a emissora coloca no ar, a partir desta segunda-feira (1), a terceira reprise seguida no horário das 18 horas. "A Vida da Gente", exibida originalmente entre 2011 e 2012, passa a ocupar a faixa enquanto a inédita "Nos Tempos do Imperador" não fica pronta.
O foco da história são as irmãs Ana (Fernanda Vasconcellos) e Manuela (Marjorie Estiano). A primeira é um talento promissor das quadras de tênis, cuidada de perto pela mãe Eva (Ana Beatriz Nogueira) e pela rígida treinadora Vitória (Gisele Fróes). Já Manuela tem uma personalidade tímida e busca sempre consolo com a avó Iná (Nicette Bruno), que defende a neta da clara preferência que Eva tem por Ana. A tenista descobre uma paixão por Rodrigo (Rafael Cardoso), filho do marido de Eva, no meio de uma turbulenta separação da mãe, o que torna tudo mais difícil. O amor de Ana e Rodrigo vai ser marcado por vários acontecimentos, que também vão envolver Manuela, mas escolho parar por aqui e, assim, evito spoilers para quem não viu.
Primeiro folhetim solo de Lícia Manzo, "A Vida da Gente" vai levar mais intensidade ao horário, que, durante a pandemia, já abrigou uma aventura ("Novo Mundo") e uma trama mais romântica ("Flor do Caribe"). Adepta das histórias mais realistas, a autora construiu uma novela que dilui os tradicionais recursos do melodrama em conflitos mais verossímeis e que afastam construções maniqueístas de personagens.
Muito elogiada na primeira exibição, ainda que não tenha sido um sucesso estrondoso de audiência, "A Vida da Gente" é uma escolha acertada para ocupar a faixa da emissora. Diante da impossibilidade de estrear novelas inéditas, o folhetim tem qualidades capazes de nos fazer mergulhar na rotina dos personagens a ponto, inclusive, de esquecermos que é uma reprise. Para provar isso, aqui vão cinco motivos para fazer dos capítulos um compromisso diário.

- Texto e direção em harmonia

Esqueçam as cenas curtas e o ritmo acelerado que virou quase uma regra nos folhetins dos últimos anos. Em "A Vida da Gente", o espectador entra em contato com diálogos longos e muita verbalização de sentimentos. Tudo isso poderia ser enfadonho, mas a qualidade do texto de Lícia Manzo impede isso. A autora sabe exatamente o que é importante de ser dito e quando as cenas merecem um desfecho. Não há afetações e tão pouco superficialidade, toda conversa transforma ou leva os personagens a uma condição diferente da inicial. A proposta de Lícia encontrou na direção artística de Jayme Monjardim a parceria ideal. O diretor compreende bem o tom contemplativo e a importância do tempo e das pausas nos diálogos, além, é claro, de imprimir naturalidade para os acontecimentos. Um casamento harmônico entre roteiro e direção.

- Personagem invisível

Nos folhetins, os vilões têm a função de provocar situações ou conflitos que fazem a história andar. Em alguns casos, dependendo do desenho do personagem, os antagonistas também desempenham essa tarefa. Já na novela de Lícia Manzo, até pela ausência de maniqueísmo, quem se ocupa disso é a passagem do tempo, um personagem invisível que promove brigas, impõe condições, leva ao perdão, cria distâncias e estimula escolhas. E não é assim no nosso dia a dia? A importância do tempo para o folhetim aparece na música de abertura "Oração ao Tempo", composta por Caetano Veloso e cantada por Maria Gadú: "compositor de destinos, tambor de todos os ritmos". É o tempo que dita os acontecimentos de "A Vida da Gente".

- Naturalismo

Manoel Carlos ainda é a referência quando falamos em novelas naturalistas, que buscam realismo e se inspiram no dia a dia das pessoas, mas o autor não está mais sozinho. Desde que estreou como titular, Lícia Manzo mostrou predileção por esse tom. Seja antes de "A Vida da Gente", na ótima série "Tudo Novo de Novo", e depois, na excelente novela "Sete Vidas", a autora sempre construiu tramas que se conectam facilmente com a realidade do espectador. Não é preciso fazer força para se identificar com a rotina ou com os sentimentos dos personagens, que são colocados diante de dilemas universais. Ainda este ano, Lícia deve estrear no principal horário de novelas da TV Globo, o das 21 horas, com "Um Lugar ao Sol", uma promessa de retorno à faixa dessa forma de contar histórias.

- Elenco

Além de roteiro e direção, "A Vida da Gente" tem um elenco poderoso. O drama das irmãs Ana e Manuela não seria o mesmo sem o nível de entrega de Fernanda Vasconcellos e Marjorie Estiano, que carregaram boa parte da carga dramática da novela. A trama também contou com uma interpretação intensa de Ana Beatriz Nogueira, que viveu Eva, a mãe das personagens. A nítida preferência dela por Ana foi responsável por cenas fortes, especialmente quando Eva fazia questão de diminuir Manuela. Gisele Fróes, que viveu a treinadora de Ana, também merece destaque, assim como Nicette Bruno, Paulo Betti, Malu Galli, Luiz Carlos Vasconcelos, Leonardo Medeiros e Stênio Garcia.

- Trilha sonora

As novelas não seriam o produto que são hoje sem as trilhas sonoras e, nesse quesito, "A Vida da Gente" é um deleite para os ouvidos. Além da versão de Maria Gadú para "Oração ao Tempo", o folhetim ainda conta com uma bela interpretação de Milton Nascimento para a canção "Dona Cila". O núcleo de Iná é embalado pela ótima "Sou Eu", cantada por Chico Buarque e Wilson das Neves. Ainda há "A Idade do Céu", cantada por Moska; "Ovelha Negra", de Rita Lee; e "Aonde Quer Que Eu Vá", dos Paralamas do Sucesso. Zizi Possi, Legião Urbana, Cássia Eller e Elba Ramalho também aparecem na trilha sonora da novela.

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