"WandaVision" constrói ilusão para esconder fragilidade da história

Divulgação/Disney+

Os moradores de Westview vivem tranquilos e felizes para quem observa de longe aquela rotina suburbana. Só que, na verdade, por trás das aparências, pequenos detalhes revelam que tudo não passa de uma ilusão criada por Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen), a integrante dos Vingadores que usou os poderes para suprir traumas e as dores de um coração partido. Esse, no entanto, não é o único truque de ilusionismo em "WandaVision", primeira série do universo Marvel na plataforma de streaming Disney+. Assim como os habitantes da cidadezinha, os espectadores também passam os nove episódios da produção iludidos por recursos que maquiam a fragilidade da história.

"WandaVision" começa com Wanda e Visão (Paul Bettany) protagonizando sitcoms que remetem a diferentes épocas e retratam uma rotina doméstica dos heróis em um típico subúrbio norte-americano. O dia a dia perfeito e sem problemas é interrompido por falhas que, aos poucos, revelam que aquela realidade está sendo controlada por Wanda, que usou os próprios poderes para suprir a ausência do amado e tentou criar uma espécie de mundo ideal onde Visão, morto em "Vingadores: Guerra Infinita", estivesse presente.

Fora do campo de força que envolve a cidade, vemos a volta de Monica Rambeau (Teyonah Parris), uma das vítimas da ação de Thanos (Josh Brolin) que eliminou 50% de toda a vida do universo. Depois do impacto de descobrir que o mundo não era mais o mesmo, ela é reintegrada à S.W.O.R.D., agência de inteligência comandada por Tyler Hayward (Josh Stamberg). Na primeira missão após o retorno, Monica é designada para investigar o estranho fenômeno que aprisiona Westview.

Enquanto os agentes da S.W.O.R.D. traçam estratégias para tentar conter Wanda, dentro da cidade, a personagem lida com a inesperada presença de Agatha Harkness (Kathryn Hahn), uma bruxa que se infiltrou naquela ilusão com interesse nos poderes da protagonista. Para isso, não hesita em confrontar Wanda com a realidade e faz ameaças a Tommy (Jett Klyne) e Billy (Julian Hilliard), filhos que a Feiticeira Escarlate criou para ampliar a família que formou com Visão.

Assim como a personagem central faz com os moradores de Westview, "WandaVision" constrói uma ilusão para disfarçar a realidade. O primeiro recurso usado para essa finalidade é a aparente intenção de postergar acontecimentos em nome de um propósito para a trama. Nos três primeiros episódios, a série se dedica exclusivamente a mostrar a rotina de Wanda e Visão inserida em formatos de sitcoms, que remetem a programas como "A Feiticeira", "I Love Lucy" e "Malcolm in the Middle". 

Divulgação/Disney+


A escolha do roteiro se revela um capricho, apesar de resultar bem esteticamente. A proposta deixa o espectador "cozinhando em banho-maria" até que a história realmente começa a se desenhar já quase na metade da temporada. A explicação para o uso da linguagem, relacionada a lembranças afetivas de Wanda, não é sólida o bastante para justificar tanto tempo de tela gasto nisso. As diferentes fases das sitcoms poderiam ser condensadas em um único episódio e transmitiriam tranquilamente o apego da personagem por atrações do gênero.

Seguindo a mesma linha de outros produtos da Marvel, "WandaVision" também se aproveita das expectativas dos fãs para escorar a proposta da série. Cientes da mobilização que criam, os roteiristas utilizam ganchos de impacto e a inclusão de personagens para gerar repercussão e teorias sobre a história. Esses recursos, no entanto, escondem uma base de sustentação que não teria condições de manter nove episódios sozinha.

O arco narrativo de Wanda é bem definido, mas, de novo, só consegue se manter em pé por tanto tempo por conta dos recursos já mencionados. Sem tantos "adereços", a história poderia ser condensada em menos episódios ou, até mesmo, em um filme para ser lançado na mesma plataforma, uma vez que os personagens parecem não ter apelo suficiente para mais espaço no cinema. A série desperdiça, ainda, todo o potencial de Agatha Harkness, que merecia uma profundidade maior e acaba funcionando apenas como um acessório que agrada os fãs dos quadrinhos.

"WandaVision" é uma série cheia de truques. O roteiro usa vários elementos para construir diante do espectador uma ilusão de robustez e complexidade. Mas, não se deixe enganar pelas habilidades desses especialistas em ilusionismo. Por trás de tudo isso, fica escondida uma história frágil, sem tanto fôlego, que se apoia na capacidade de gerar teorias e mobilizar fãs para sustentar toda a repercussão. Diverte, é claro, já que essa é a especialidade da Marvel, mas engana muito mais.

WANDAVISION (primeira temporada)

ONDE: Disney+ (todos os episódios disponíveis)

COTAÇÃO: ★★ (regular)

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