Dercy de verdade, mas por pouco tempo

Quem esperava apenas um festival de palavrões, se surpreendeu com a minissérie "Dercy de Verdade", que teve seu último capítulo exibido nesta sexta-feira (13), na TV Globo. Aqueles que pensavam que o nome Dercy Gonçalves era apenas sinônimo de xingamentos, puderam ver um universo muito mais amplo sobre a vida da atriz.
Baseada no livro de sua autoria, "Dercy de Cabo a Rabo", a autora Maria Adelaide Amaral contou na televisão diferentes passagens da vida de Dercy e mostrou traços da personalidade da atriz que muitos não conheciam.
A minissérie começa com Dercy ainda em sua terra natal, a cidade de Madalena, no interior do Rio de Janeiro. Lá, atriz é abandonada pela mãe e passa a viver apenas com o pai e a irmã. Dercy era mal vista na cidade e isso ajudou em sua decisão de fugir com uma companhia de teatro mambembe pela região. "Dercy de Verdade" também acompanha as outras diferentes fases da vida da atriz, como o período em que ela era estrela do Teatro de Revista, vítima da Ditadura Militar e o início na televisão.
O trabalho das atrizes Heloísa Périssé e Fafy Siqueira, intérpretes de Dercy em fases diferentes, foi de altíssima qualidade. Heloísa conseguiu imprimir o jeito debochado e irreverente da atriz, e Fafy conseguiu retratar Dercy com tanta perfeição que, muitas vezes, seus trejeitos pareciam saídos de imagens de arquivo da atriz. O diretor Jorge Fernando, como sempre, soube conduzir com maestria o andamento da minissérie. Maria Adelaide Amaral também nos apresentou um texto de alto nível.
A única ressalva que faço sobre a minissérie não é propriamente ao trabalho, mas ao tempo de duração. De uns tempos para cá, as minisséries de 30, 40 capítulos caíram em desuso e a TV Globo passou a apostar em tramas mais curtas, com poucos capítulos. Além de "Dercy de Verdade", "Maysa - Quando Fala o Coração" e "Dalva e Herivelto - Uma Canção de Amor" também seguiram por esse mesmo caminho. Não há problema em apostar nessas minisséries menores, mas uma história em apenas quatro capítulos sempre me deixa com um gosto de "quero mais" e com a sensação de que a vida do personagem do momento poderia ser melhor contada e mais rica em detalhes.
Achei a ideia de contar a vida de Dercy Gonçalves muito boa. Sempre admirei muito a atriz pelo jeito desbocado, corajoso e irreverente. Dercy era uma comediante espetacular, uma das melhores. Sempre me lembro de uma cena do filme "Absolutamente Certo", de Anselmo Duarte, em que Dercy canta a música "Jura" e consegue arrancar sorrisos facilmente. Os palavrões, que viraram marca registrada da atriz, não ganham uma conotação ruim quando ditos por ela, a não ser, é claro, quando ela queria que fosse assim.
"Dercy de Verdade" foi um belo trabalho, em todos os sentidos. Pena que durou tão pouco. A minissérie serviu para homenagear uma atriz e comediante como, talvez, o Brasil jamais irá ver novamente, mas que estará sempre no imaginário popular e não morrerá nunca.

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