Manutenção do poder move protagonistas no terceiro ano de "House of Cards"

No dicionário, a palavra ambição é definida como um desejo veemente pelo poder. Depois que "House of Cards" estreou no serviço de streaming Netflix e conquistou o público, talvez seja a hora de sugerir uma atualização aos dicionários e incluir, no significado da palavra, um novo verbete: Frank Underwood. 
Nesta terceira temporada, já disponível integralmente desde fevereiro, vemos Underwood (Kevin Spacey) já sentado na cadeira de presidente dos Estados Unidos, depois de uma série de golpes e planos arquitetados pelo ambicioso protagonista desde o primeiro ano da série. Agora que se tornou o "commander in chief" do mundo livre, alguns poderiam pensar que o democrata sossegou e iria desfrutar de sua posição e, claro, poder. Mas, todas essas previsões estavam erradas. O congressista que rapidamente chegou à Casa Branca quer mais, muito mais...
Não são poucos os desafios de Underwood no topo da democracia norte-americana. Logo de cara, o presidente precisa lidar com as investidas que vêm do Capitólio. Além de enfrentar a rivalidade dos Republicanos, ele encara a falta de apoio de seu próprio partido, o Democrata, descontente com sua rápida escalada até à presidência. A resistência e alguns acordos entre os dois partidos fazem com que Underwood tenha dificuldade de aprovar um projeto de lei criado para aumentar o nível de emprego no país. 
Enquanto costura alianças e negocia com adversários para implantar o "America Works", nome dado ao projeto de empregos, Underwood ainda enfrenta os desafios da política externa. Uma crise no relacionamento com a Rússia, país liderado pelo presidente Viktor Petrov (Lars Mikkelsen), rende muitas dores de cabeça ao presidente democrata e faz com que muitas de suas decisões estratégicas sejam questionadas. As relações internacionais complicam, ainda mais, quando problemas no Oriente Médio surgem no meio do caminho.
O maior percalço da temporada para o presidente, talvez, esteja muito próximo, circulando pelos corredores da Casa Branca. Sempre ao lado do marido, cumprindo seu papel de esposa devotada, Claire (Robin Wright) não se mostra muito confortável com o papel de primeira-dama. Dona de sua próprias ambições, ela não se conforma de ter atribuições como organizar jantares, escolher peças de decoração ou consolar viúvas de soldados mortos em combate. Mais do que isso, Claire quer ir além e usa sua influência com o marido para chegar a embaixadora das Nações Unidas. A nomeação da primeira-dama, é claro, rende mais problemas para os Underwood.
Depois de duas ótimas temporadas, "House of Cards" continua vigorosa em seu terceiro ano. As tramas e conflitos dessa nova leva de episódios continuam rendendo momentos marcantes para os protagonistas, marcados por diálogos sarcásticos e inteligentes, A construção dos roteiros é um ponto que deve ser destacado na série, sempre trazendo episódios fortes e instigantes. A proposta de mostrar as dificuldades de se manter no poder e dos conflitos de interesses entre os protagonistas fizeram o programa manter o vigor de sempre.
O elenco continua ótimo e ajuda a dar o tom da nova temporada. Kevin Spacey mostra, cada vez mais, que, além do ótimo texto, Frank Underwood precisava de sua interpretação para ganhar as telas. O ator contribui para que alguns momentos da série fiquem eternizados, como quando o protagonista urina na lápide do túmulo do pai ou, ainda, na cena em que o presidente "desafia" Jesus Cristo e cospe na cara de uma estátua Dele na igreja. Já Robin Wright vê sua personagem crescer ainda mais e não decepciona, carregando a frieza e a frustração que sua Claire precisa para brilhar. Em meio a bons coadjuvantes, fica difícil não citar o ótimo trabalho de Michael Kelly, vivendo o conflitante e inseguro Doug.
Ao final da terceira temporada, o desejo que fica é que novos episódios precisam estar disponíveis o quanto antes, mesmo sabendo que só poderemos ver os Underwood de novo, provavelmente, daqui a um ano. "House of Cards" continua sendo uma série de excelente qualidade e acerta ao trazer à tona os conflitos e dificuldades do ambicioso protagonista para não perder o poder que ele tanto almejou conquistar, e que pode estar ameaçado, inclusive, por sua esposa e maior aliada. Pelo menos, dá para ter certeza que o presidente não vai deixar sua cadeira sem lutar ferozmente.
Depois de tantos argumentos, não vejo motivo para que o nome de Frank Underwood não seja incluído como um sinônimo da palavra ambição.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mesmo com protagonista descaracterizada, "Gabriela" foi bom entretenimento

Final de "Revenge" decepciona e desvaloriza confronto entre protagonistas

The Blacklist apresenta novo gancho para trama central e introduz spin-off arriscado