Cinco motivos para não perder a reexibição de "Mulheres Apaixonadas"
Crédito das fotos: Divulgação/Reprodução/TV Globo |
Não sou nem louco de achar que as diferenças sociais não interferem na forma como as pessoas encaram os problemas da vida, é claro que esse é um fator a ser considerado. Mas, honestamente, não concordo com esse olhar sobre o trabalho do autor. Maneco, como é conhecido na área, está interessado em sentimentos, identificação, catarse e conscientização quando escreve suas novelas. Com a sensibilidade que só um escritor tem, ele entende que os conflitos amorosos, familiares, financeiros e morais fazem parte do dia a dia de qualquer ser humano e que a empatia pelos personagens é capaz de conectar pessoas de todo canto, ainda que elas vivam realidades diferentes.
Mas, daí você pode se perguntar: se é assim, por que sempre no Leblon? Ora, é o bairro onde o autor mora, de onde ele tira inspiração, é o lugar que ele conhece e que escolheu para criar os microcosmos estruturados em cada um dos trabalhos. No fundo, Maneco só está seguindo um dos ensinamentos de Liev Tolstói, escritor russo que disse: "Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia".
Toda essa introdução foi feita para dizer que, a partir desta segunda-feira (24), temos a chance de acompanhar um grande trabalho de Manoel Carlos, "Mulheres Apaixonadas", exibida originalmente em 2003. A reexibição do folhetim é uma oportunidade para entrar em contato novamente com características marcantes do estilo do autor, que não escreve um folhetim inédito desde 2014 e segue como um dos maiores nomes do gênero.
Aproveitando a volta da novela ao ar, listei cinco motivos para não perder a reprise de "Mulheres Apaixonadas".
- A melhor Helena
Que as outras me desculpem, mas Christiane Torloni teve a chance de viver a melhor protagonista do autor, que sempre batiza a personagem feminina central de uma trama como Helena. É verdade que outras atrizes, como Vera Fisher e Regina Duarte, são mais lembradas por isso, mas a Helena de "Mulheres Apaixonadas" é, na minha opinião, a mais realista e complexa de todas. Ao mesmo tempo em que carrega características tradicionais dessas personagens, como altruísmo e senso de justiça, essa Helena também não hesita em se deixar levar pelos próprios desejos, ainda que pareça egoísta e pouco tradicional. Erra por mergulhar de cabeça no amor e ceder às próprias fraquezas, sem deixar de levar em conta dos problemas dos parentes e amigos. É mocinha de folhetim, mas é imperfeita. Não posso levar em conta os desempenhos de Lilian Lemmertz e Maitê Proença, por não ter visto "Baila Comigo" e "Felicidade", mas, entre as demais, a Helena de "Mulheres Apaixonadas" é a melhor.
- Crônica do dia a dia
A rotina é a principal matéria-prima de Manoel Carlos. As novelas do autor são conhecidas por apresentar tramas mais realistas, inspiradas no dia a dia das pessoas. Em entrevistas, Maneco já revelou que tira ideias de notícias de jornal e das observações feitas enquanto caminha pelas ruas do Leblon. "Mulheres Apaixonadas" não é uma exceção. Os personagens discutem na mesa do café da manhã, têm os dias alterados por imprevistos e são surpreendidos pela violência urbana, doenças, amores e injustiças. É claro que esses conflitos ganham tintas mais carregadas e um tom melodramático, afinal, estamos falando de uma novela e não um documentário. A principal qualidade é a capacidade do texto de acessar os sentimentos dessas situações e transmiti-los ao público em forma de crônica da vida cotidiana.
- Elenco
A escalação dos atores é parte importante do sucesso de uma novela e, nesse aspecto, as tramas de Manoel Carlos são sempre bem servidas. Em "Mulheres Apaixonadas", além do ótimo desempenho de Christiane Torloni, o elenco ainda é lembrado pelos trabalhos de Tony Ramos, Vera Holtz, Susana Vieira, Dan Stulbach, Marcos Caruso, Giulia Gam, Natália do Vale e Helena Ranaldi. A novela ainda marcou atores que, na época, ainda estavam despontando, como Regiane Alves, Pedro Furtado, Bruna Marquezine, Alinne Moraes e Roberta Gualda. "Mulheres Apaixonadas" teve quase cem personagens e, como poucos, Maneco conseguiu equilibrar o espaço de todos no folhetim.
- Temas relevantes
"Mulheres Apaixonadas" carrega outra característica importante do trabalho de Manoel Carlos: a abordagem de temas relevantes. O autor sempre apostou no que ficou conhecido como "merchandising social", que nada mais é do que abraçar e suscitar debates necessários e, muitas vezes, urgentes. Ainda que, em alguns casos, essa proposta ceda a certo didatismo, é louvável a iniciativa de levar para um produto tão assistido discussões sobre violência contra a mulher, alcoolismo, agressões contra idosos, violência urbana, sexualidade e muitos outros. Sequências da novela, como o arrastão que causa a morte de Fernanda (Vanessa Gerbelli) ou a surra de raquete que Raquel (Helena Ranaldi) leva do marido, mobilizaram o público na época e podem voltar a contribuir com a reflexão sobre esses temas nos dias atuais.
- Trilha sonora
Não dá para falar em novela de Manoel Carlos sem pensar em bossa nova. O gênero sempre embala as tramas e personagens que circulam pelas ruas do Leblon. Em "Mulheres Apaixonadas", clássicos de Tom Jobim, Vinícius de Moraes e Roberto Menescal ganharam as vozes de Gal Costa, Nara Leão, Miúcha, e Cauby Peixoto. A trama bombou outras músicas na época, como "Velha Infância", dos Tribalistas; "Amor Maior", do Jota Quest; e "Dois Rios", do Skank. Na trilha internacional, destacaram-se: "Misunderstood", de Bon Jovi; "I´m With You", de Avril Lavigne; "Imbranato", de Tiziano Ferro; e "The Way You Look Tonight", na voz de Rod Stewart.
MULHERES APAIXONADAS
ONDE: Canal Viva
QUANDO: de segunda a sábado, às 13h30 e 23 horas
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