"The Umbrella Academy" melhora narrativa e dribla desgaste da fórmula

Divulgação/Netflix

Uma história bem contada, com acontecimentos amarrados e boas construções de personagens, é capaz de fazer o espectador relevar eventuais deslizes e embarcar mais facilmente na proposta do produto. A melhora considerável da narrativa de "The Umbrella Academy" na segunda temporada é um exemplo claro disso. Com episódios mais bem estruturados do que no primeiro ano, a série da Netflix consegue escapar do desgaste e se manter interessante.
Depois de fugir do apocalipse de 2019, provocado pelos poderes de Vanya (Ellen Page), os irmãos Hargreeves viajam no tempo para anos diferentes da década de 60. Cabe a Número Cinco (Aidan Gallagher) descobrir que os membros da "The Umbrella Academy" levaram o fim do mundo para 1963. Ele decide, então, procurar os irmãos e restabelecer a ordem da linha temporal.
Por terem chegado aos anos 60 em momentos diferentes, cada um dos personagens estabeleceu uma nova vida naquele período. A trajetória mais interessante é a de Allison (Emmy Raver-Lampman), que é inserida nos conflitos raciais da época. Ainda se recuperando do ataque de Vanya, ela acaba ganhando um emprego em um salão de beleza e conhece Raymond Chestnut (Yusuf Gatewood), um ativista que luta contra o preconceito. O envolvimento amoroso com ele faz Allison mergulhar de cabeça em protestos que antecedem a chegada do presidente John F. Kennedy a Dallas, no Texas, e o posterior assassinato do líder norte-americano.
Klaus (Robert Sheehan) é outro que se insere fácil nos anos 60. Sempre acompanhado do fantasma de Ben (Justin H. Min), o personagem logo se transforma em uma espécie de guru e consegue reunir seguidores em uma seita. Já Diego (David Castañeda), depois de uma confusão, vai parar em um hospício e Luther (Tom Hopper) arruma um emprego de capanga do dono de uma boate.
A mais desorientada entre os irmãos Hargreeves é Vanya, que vai parar em uma fazenda e, sem memória, é acolhida pelos moradores, passando a tomar conta de Harlan (Justin Paul Kelly), o filho dos donos da propriedade.

Divulgação/Netflix

Depois de encarar certa resistência dos irmãos, sem falar em alguns desentendimentos, Número Cinco consegue convencê-los a tentar restabelecer a linha do tempo e, assim, evitar o apocalipse. Ele acredita, no entanto, que parte do plano envolve o pai deles, Reginald (Colm Feore), que surge em Dallas aparentemente envolvido em uma conspiração contra Kennedy.
Como se não bastasse, os irmãos Hargreeves ainda são desafiados pela Gestora (Kate Walsh), que, mesmo rebaixada do cargo de chefe da comissão que cuida da linha temporal, tem planos para tirar A. J. Carmichael (voz de Robin Atkin Downes) do comando da corporações e ainda seguir de perto os passos de Número Cinco.
Se, na primeira temporada, "The Umbrella Academy" usou a estética marcante e os conflitos dos heróis para disfarçar a obviedade da história, no segundo ano a tática é repetida. Agora, os novos episódios são beneficiados por uma melhora na estrutura narrativa, que valoriza a construção dos personagens e contribui para um ritmo mais equilibrado da trama. A forma como os acontecimentos são amarrados, muitas vezes sem ser linear, é muito eficiente para manter o interesse do espectador.
Essa qualidade fundamental acaba ajudando a série a driblar um problema que poderia facilmente ter provocado um desgaste grande e precoce na história. A melhora da narrativa mascara a falta de criatividade do roteiro em fazer os conflitos dos personagens girarem, mais uma vez, em torno de um apocalipse. Se "The Umbrella Academy" tivesse escorregado na forma de contar a história, teria sido vencida pela repetição e chegaria mais frágil à terceira temporada.
Outros escorregões da produção da Netflix acabam minimizados pela boa escolha narrativa. Em alguns momentos, por exemplo, a série atrasa propositalmente desfechos para justificar algumas resoluções do final da temporada. Personagens inseridos nos novos episódios, como A.J. Carmichael e o trio de assassinos suecos, terminam deixando a sensação de terem sido mal aproveitados na história, mas isso não tem grandes impactos no produto como um todo.
A melhora considerável na narrativa de "The Umbrella Academy" salvou a segunda temporada de um desgaste rápido causado pela repetição criativa do conflito dos personagens, que se viram às voltas com mais um apocalipse. Embalada por uma ótima trilha sonora, a série dribla bem os efeitos dos pontos fracos e sinaliza que pode caminhar ainda melhor daqui para frente.

THE UMBRELLA ACADEMY (segunda temporada)

ONDE: Netflix (todos os episódios disponíveis)

COTAÇÃO: ★★★ (boa)

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