Foi o maior "Ti Ti Ti"


Foi ao ar, na última sexta-feira (18), o último capítulo de "Ti Ti Ti", novela de Maria Adelaide Amaral baseada na obra de Cassiano Gabus Mendes. Misturando elementos da versão original de 1985 e de "Plumas e Paetês", exibida em 1980, a autora conseguiu fazer uma comédia rasgada para o horário das 19 horas, daquelas que só podiam contar com a alegria e a direção de Jorge Fernando.
Quando as notícias sobre o remake de "Ti Ti Ti" começaram a aparecer na mídia, muitos foram os descrentes, nos jornais e nas revistas, que acharam arriscado adaptar um sucesso dos anos 80 para os dias de hoje. Afinal, como transpor o universo da moda da década de 80 para os tempos atuais? Como contar a história de dois costureiros rivais, que lutam pela mesma clientela agora, quando o mercado da moda não é o mesmo de antigamente? Aí, surgiu a primeira grande sacada de Maria Adelaide Amaral: transformar esses dois em costureiros de vestidos de festa, que sonham em apresentar seus trabalhos na São Paulo Fashion Week. Assim, a novela ganharia um sopro de vitalidade, já que ainda hoje os costureiros são procurados para fazer vestidos para bailes, formaturas e festas de 15 anos.
Mostrando a rivalidade dos inimigos mortais Ariclenes Martins (Murilo Benício) e André Spina (Alexandre Borges), que se tornam os estilistas Victor Valentim e Jacques Leclair, a novela apostou numa disputa bem-humorada entre os personagens. Quando alguma discussão entre eles parecia estar tomando um rumo mais sério, a comédia prevalecia e se transformava em um pastelão. A surtada Jaqueline Maldonado (Cláudia Raia), no entanto, foi o principal ponto de comédia de "Ti Ti Ti". Com um texto inspiradíssimo, a atriz talvez tenha sido o principal nome da trama.
O texto da novela, aliás, merece destaque como um todo. Maria Adelaide Amaral e sua equipe de colaboradores estavam afiados na comédia e trouxeram o bom humor de volta às novelas das 19 horas. Destaco as referências às antigas novelas de sucesso. Precisando de um detetive para a trama? A solução foi trazer de volta Mário Fofoca (Luiz Gustavo), personagem da novela "Elas por Elas", outro sucesso de Cassiano Gabus Mendes. Pra que apenas mostrar duas modelos sendo penteadas para um desfile, quando se pode relembrar a abertura da novela "Locomotivas"? Qual apelido Jaqueline poderia dar para Suzana (Malu Madder)? Por que não chamá-la de Fera Radical, fazendo alusão à novela que a atriz protagonizou anos atrás? Cada uma dessas tiradas, e muitas outras, fizeram do remake de "Ti Ti Ti" uma verdadeira metalinguagem das novelas. Dia desses, Jaqueline reclamou sobre o seu triste destino amoroso na trama: "Eu vou mandar um torpedo pra esses autores".
Retratar a imprensa especializada em moda também rendeu assunto. Os altos e baixos da vida de uma revista, bem como os limites para conseguir uma capa estavam ali. Diferentemente de muitas novelas, que ainda insistem em retratar as redações como se estivéssemos na década de 90, aqui a redação da revista Moda Brasil já era informatizada. Muito do conteúdo da revista era produzido para o seu site, que é o que as revistas devem fazer quando alguma informação quente está em mãos. Caso contrário, se esperar até a revista ir às banca, o assunto já pode estar morto e enterrado. Atualizar o universo na imprensa da moda também foi um ganho da novela. Blogueiros e novos termos foram inseridos no contexto da trama, afinal, não adianta fazer um remake de uma novela sem rever suas nomenclaturas.
O triângulo amoroso central da trama, composto por Renato (Guilherme Winter), Marcela (Ísis Valverde) e Edgar (Caio Castro), também foi um dos destaques da novela e fez com que o público esperasse até o último capítulo pelo o desfecho.
Tratar das idas e vindas de um casal homossexual de maneira madura e sem preconceitos também foi um diferencial em "Ti Ti Ti". Em geral, as novelas tratam os casais gays de maneira velada, sempre faltando naturalidade nessas representações. Aqui, Tales (Armando Babaioff) e Julinho (André Arteche) pareciam um casal real, crível, e, como todo casal de novela, tiveram seu final feliz.
"Ti Ti Ti" divertiu o horário das 19 horas. E, como não podia deixar de ser, acabou em alto astral com um show de Rita Lee, cantando o tema de abertura da novela.

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