Conversa vai, conversa vem

Danilo Gentili apresenta o talk show "Agora É Tarde"
Se tem um tipo de programa que me chama a atenção na TV são os de entrevistas. Talvez isso tenha a ver com o fato de eu gostar de ouvir o que as pessoas têm a dizer. Mas, para que o papo seja interessante, alguns elementos essenciais precisam estar presentes.
O elemento fundamental para um bom programa de entrevistas é, sem sombra de dúvidas, o entrevistador. O talento dele define o fracasso e o sucesso de um programa. Muitas vezes, um entrevistador pode "tirar leite de pedra" e transformar uma conversa monótona em interessante e, para isso, ele precisa saber explorar o entrevistado.
Essa característica é o que mais prejudica, por exemplo, o programa "Agora É Tarde" (terças, quartas e quintas-feiras, às 23h45, na Band). Danilo Gentili, que se tornou conhecido por causa do trabalho como comediante, não possui o "jogo de cintura" necessário para segurar uma entrevista. As conversas do programa "morrem", geralmente, depois da primeira pergunta e caberia ao apresentador tentar salvar a entrevista e ter a percepção do que e de como questionar o entrevistado. As conversas do "Agora É Tarde" sempre levam à lugar algum.
Há mais tempo no ar, o "Programa do Jô" (segunda a sexta, por volta da 1 hora, na Globo) também traz entrevistas para as madrugadas da TV. Enquanto Gentili ainda engatinha na arte de fazer graça com seus entrevistados, Jô Soares já é mestre no assunto. Quando uma entrevista não rende conforme o esperado, Jô transforma o papo em um show de comédia, contando piadas, tirando sarro de seu Sexteto ou ressaltando aspectos engraçados da vida do entrevistado. Agora, se nem isso dá certo, ele leva a conversa no "piloto automático" sem qualquer cerimônia. O maior problema do "Programa do Jô" é que o entrevistado precisa ter o talento de envolver Jô na conversa, e isso só acontece em raras ocasiões, quando o apresentador recebe alguém que fale sobre algum assunto interessante para ele ou quando recebe algum amigo de longa data. No mais, as entrevistas do programa sempre seguem os tópicos determinados pela pré-entrevista realizada com os convidados fora do ar e que poupam Jô de se incluir na conversa.
Marília Gabriela é uma das que melhor faz entrevistas na TV. Seus dois programas, "De Frente Com Gabi" (domingos e quartas-feiras, à meia-noite e 00h15, no SBT) e "Marília Gabriela Entrevista" (domingos, às 22 horas, no GNT), sempre proporcionam bons papos e discussões. O mérito disso é o interesse de Marília, que sempre parece aberta ao que o entrevistado tem a dizer e não se incomoda quando as respostas dadas levam o papo para um lugar não programado.
Outro programa que merece destaque é o "Dossiê Globo News" (sábados, às 00h30, na Globo News), conduzido de maneira eficiente pelo jornalista Geneton Moraes Neto. O programa, que já teve algumas edições temáticas dedicadas à Ditadura Militar e ao 11 de setembro, sempre se mostra interessante e curioso. O jornalista é responsável por esse êxito, por causa das perguntas precisas que geram respostas elucidativas.
O clássico "Roda Viva" (segundas-feiras, às 22 horas, na TV Cultura), agora apresentado pelo jornalista Mário Sérgio Conti, continua sendo uma boa opção de programa de entrevistas. O formato, em que vários jornalistas entrevistam um convidado, parece revigorado a cada semana e o programa sempre gera conversas interessantes.
Agora, se você gosta de ouvir pensadores, cineastas, poetas e escritores falando e filosofando sobre a vida, o melhor programa para isso é "Sangue Latino" (terças-feiras, às 21 horas, no Canal Brasil; quintas-feiras, às 23 horas, na TV Cultura). Com uma fotografia belíssima, um formato que lembra um documentário e conduzido brilhantemente por Eric Nepomuceno, o programa já apresentou entrevistas com Chico Buarque, Walter Carvalho, Aderbal Freire Filho, Eduardo Galeano, Milton Hatoum, entre outros. Todos falam sobre suas artes, filosofias, ideias e pensamentos sobre a vida e o mundo que os cerca.
Entrevistar alguém é muito mais do que fazer perguntas pré-determinadas. Quando o entrevistador se envolve com a conversa, ele torna o diálogo vivo e pouco previsível. Quando ele se permite ouvir o que o outro tem a dizer, aliado a perguntas inteligentes e perspicazes, o telespectador finalmente pode fazer parte de uma boa conversa.

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