Retrospectiva 2011: O ano através da "janela eletrônica"

Levantar, apontar, apertar e pronto! O controle remoto ligou a televisão e abriu-se uma janela, o mundo está na ponta dos nossos dedos. Já disse Nelson Rodrigues: "A televisão matou a janela". Se antes muita gente se empoleirava nas janelas de suas casas para ver a vida passar, hoje a localização da janela mudou de lugar. Ela está no meio da sala, não é mais feita de madeira ou ferro e não restringe mais o seu campo de visão. A televisão, para o bem ou para o mal, nos mostra diversas realidades do mundo: a das ruas, das guerras, das crises e a da ficção.
A realidade tem um espaço importante na nossa janela eletrônica. Sentados no sofá da sala, pudemos ver povos se rebelando contra os ditadores que os comandavam; ministros deixando seus postos, acusados de cometerem irregularidades; países preocupados com suas crises econômicas; e milhares de pessoas desabrigadas, vítimas de desastres naturais. Um príncipe casou e transformou a plebeia em princesa. Sim, eu ainda estou falando da realidade. Também tomamos conhecimento que algumas vozes da música se calaram, alguns refletores do teatro se apagaram e algumas mentes brilhantes se imortalizaram.
Foram tantas notícias, que chegam cada vez mais rápido pela janela ligada nas nossas casas. Mas, como elas foram dadas? A seriedade e a rigidez a que estamos acostumados andaram perdendo espaço nos telejornais em 2011. O SBT tentou trazer para o seu principal jornal âncoras menos engessados e mais opinativos, mas a descontração pareceu forçada. O "Jornal da Globo" continua apostando na análise dos fatos como uma maneira de fugir da notícia seca e direta. O "Bom Dia Brasil" se soltou ainda mais e seus apresentadores saíram detrás da bancada. A Record News procurou investir em comentaristas para seus telejornais, buscando o aprofundamento da notícia. Entre todos, porém, o "Jornal da Cultura" está léguas de distância na frente: a apresentação é descontraída, a notícia é debatida e analisada e o telespectador pode interagir com o noticiário. Está seguindo bem os passos do "Estúdio I", da Globo News, o melhor quando se pensa na equação jornalismo de qualidade e descontração.
Os bate-papos na TV também merecem destaque. Marília Gabriela provou que, em qualquer canal, é capaz de providenciar um bom papo. Jô Soares continuou levando seus entrevistados no "piloto automático". O quarteto do "Manhattan Connection" trocou de casa, mas não perdeu a qualidade. Mônica Waldvogel provocou boas discussões no "Entre Aspas" e Lázaro Ramos nos mostrou os diversos reflexos de um "Espelho". Agora, o melhor bate-papo de 2011 foi provocado por um "Sangue Latino", pulsante, poético e filosófico.
A televisão precisa de gente que fale por ela. Através da janela, vimos Silvio Santos ficar mais saliente e jogar cantadas no auditório. Vimos o Faustão emagrecer e virar Fausto. "Ô loco, meu". Vimos uma menina vestida de Shirley Temple falar e fazer coisas que só as crianças são capazes. O dono do carnê do Baú mandou e Hebe Camargo trocou de canal. E a Fátima Bernardes, que virou "Poeta" na bancada do "Jornal Nacional". O Datena ficou indo e vindo na TV. Que canal ele está agora, mesmo? E, muita gente usou a "janela da nossa casa" para fazer piadas sem graça. E cada uma dessas piadas rendeu um falatório.
O sempre chato politicamente correto também andou rendendo debates durante o ano: os Looney Tunes voltaram com novos episódios, mas, ao contrário do que eram, estavam mais pacíficos e adeptos do que é "certo". E as silhuetas da abertura da novela "Mulheres de Areia" tiveram que ser cobertas por "panos" moralistas.
Abrindo a "janela" de nossas casas tarde da noite, pudemos ouvir boa música. Um pouco mais cedo, mas ainda à noite, pudemos ver gente falando abertamente sobre "Amor & Sexo". E, na hora do almoço, classes sociais se misturaram em frente à janela para fazer o "Esquenta" do dia. Na correria dos aeroportos, ainda pudemos ver que a vida é cheia de "Chegadas e Partidas".
A televisão serve para podermos fazer fofoca com a vida dos outros. "Você viu o que o Pereirão fez com a Tereza Cristina ontem?". "A Dulce precisa dar um jeito no Guilherme!". "Como será que a Ana vai reagir ao descobrir que a irmã casou com seu antigo namorado, enquanto ela estava em coma?". " A novela é uma grande fofoca", já disse Aguinaldo Silva. E quanto assunto para fofocar nós tivemos em 2011. Descobrimos que "A Vida da Gente" segue por caminhos tortuosos e dramáticos; que não podemos julgar alguém apenas por sua "Fina Estampa"; que "Aquele Beijo" faz toda diferença em nossas vidas; que, às vezes, "Amor e Revolução" andam de mãos dadas; e que, nas pessoas apaixonadas, bate um "Insensato Coração", que transborda de "Passione".
Se a novela procurou, durante muito tempo, se aproximar da vida real, neste ano, ela voltou a flertar com a fantasia: um "Astro" do ilusionismo se transformou em uma águia para fugir de quem o caçava; paleontólogos descobriram um verdadeiro "Parque dos Dinossauros" no centro da Terra; e uma corte europeia veio de longe e se misturou com o cangaço brasileiro, em busca de uma princesa perdida. O "túnel do tempo" andou trabalhando em 2011 e muitos sucessos do passado puderam fazer parte da vida de pessoas do presente. "Mulheres de Areia", "Top Model", "Vale Tudo", "Roque Santeiro" e "Barriga de Aluguel" voltaram à telinha e deixaram de ser "história" para virarem atuais. 
Ainda na ficção, as séries conquistaram seu espaço no ano que chega ao fim. Uma verdadeira "Força-Tarefa" varreu os corruptos da polícia; um divertido "Macho Man" bateu com a cabeça e mudou sua orientação sexual; e diversos dramas e alegrias foram compartilhados no "Divã" de um analista. Mas, no ano em que as séries tupiniquins amadureceram e ganharam espaço, os gringos "dominaram geral": um certo médico excêntrico e viciado continuou desvendando os maiores mistérios da medicina; um grupo de nerds continuou fazendo da ciência uma coisa "pop"; certas donas de casa descobriram que terão que se mudar; um grupo de médicos continuou vivendo seus dilemas pessoas nos intervalos das cirurgias; e uma advogada deixou de ser uma "boa esposa" e seguiu com a vida. Muitas novidades surgiram, boas e más. A Branca de Neve foi mandada para um mundo real e sem finais felizes; duas garotas tentaram fazer graça com o fato de estarem sem grana; uma jovem voltou para se vingar de todos que prejudicaram seu pai; habitantes do futuro decidiram refazer suas vidas em uma "Terra Nova"; e o Sheen virou Kutcher, transformando o sucesso em fiasco.
Nossa, eu acho que já escrevi demais. Demais mesmo, foram 129 textos durante esse ano. Obrigado a todos que me empurraram para frente, para que eu chegasse nesse número; que me deram retorno sobre os textos, com opiniões e sugestões; e que me ajudaram a construir esse espaço de discussão e reflexão sobre a televisão. Até o ano que vem, quando, depois da virada, eu ligar a TV e abrir uma janela com novas (e velhas) discussões. Feliz 2012.

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