"Dupla Identidade" é boa tentativa para consolidação de séries do gênero na TV

Antes de qualquer coisa, é preciso refletir um pouco sobre o espaço dado aos seriados na televisão brasileira. Com raras exceções, podemos dizer que as séries nacionais ainda vivem no passado, sendo influenciadas majoritariamente pelos sitcons, gênero popular nos anos 90, nos Estados Unidos. "A Grande Família", "Tapas & Beijos" e, até mesmo, "Pé na Cova" beberam dessa fonte, isso só para citar os mais atuais. Séries nos moldes daquelas apresentadas no resto do mundo, especialmente nos Estados Unidos e na Inglaterra, ainda são desafios para a nossa televisão, também muito influenciada pela linguagem da telenovela.
Essa introdução era necessária para falar sobre a estreia de "Dupla Identidade", série de Glória Perez levada ao ar na sexta-feira (19), pela TV Globo. Com apenas o primeiro episódio já exibido, já é possível classificar o seriado como uma boa tentativa de evoluir e se aproximar mais da linguagem do gênero. Mas, ainda há um longo caminho a ser percorrido.
No primeiro episódio de "Dupla Identidade", somos apresentados a Edu (Bruno Gagliasso), um advogado que trabalha na assessoria do senador Oto (Aderbal Freire Filho) e almeja usufruir das facilidades que a política pode proporcionar. Estudante de psicologia, Edu é um homem sedutor com as mulheres e exerce certo fascínio sobre elas. O rosto de bom moço do protagonista, na verdade, esconde a personalidade de um psicopata, incapaz de sentir empatia por qualquer outro ser humano ou culpa por seus atos.
Utilizando sua inteligência a favor da psicopatia, Edu é o responsável por uma série de crimes que acontecem no Rio de Janeiro e que vitima muitas mulheres. Todos os casos seguem o mesmo padrão: todas são encontradas mortas na floresta da Tijuca sem qualquer pista sobre o assassino. As únicas pistas deixadas no local são aquelas que Edu quer que sejam encontradas. Para resolver os crimes, a polícia escala o delegado Dias (Marcelo Novaes) e a psicóloga forense Vera (Luana Piovani), que fez um estágio no FBI e se dedica a estudar as mentes de serial killers.
Os crimes estabelecem uma relação de "gato e rato" entre Edu e a polícia, o que não impede que o assassino mire outras vítimas, como parece ser o caso da produtora de moda Ray (Débora Falabella).
"Dupla Identidade" é claramente influenciada por séries policiais norte-americanas e essa pode ser uma boa maneira de estimular e propagar o gênero na TV brasileira. A julgar apenas pelo primeiro episódio, focado na apresentação dos personagens, o texto pode ser considerado mediano, sem diálogos caprichados ou falas marcantes. O grande destaque é o enredo, que desperta muita curiosidade e prende a atenção. Ainda é cedo, no entanto, para saber se a trama será bem desenvolvida ao longo da temporada.
Um ponto a favor de "Dupla Identidade" é a direção, que também se distancia da tradição dos folhetins brasileiros, buscando imagens e ângulos mais apurados. A fotografia sombria, com cores mais foscas e escuras, ajuda a dar o tom de mistério que a trama precisa.
Entre os atores, já é possível apostar nas boas atuações de Bruno Gagliasso, Aderbal Freire Filho e Débora Falabella. O ponto fraco do elenco é Luana Piovani, artificial como a psicóloga forense que caça o serial killer. Sua atuação faz o texto ganhar ares didáticos, o que "mata" qualquer cena.
Outros 12 episódios ainda serão exibidos e ainda é difícil dizer se será uma ótima série, mas já dá para garantir que "Dupla Identidade" é uma boa tentativa de consolidar os seriados na programação da televisão brasileira. A série de Glória Perez pode ser um louvável pontapé inicial mas, repito, ainda há muito o que fazer.

DUPLA IDENTIDADE (primeira temporada)

Quando: a partir de 19 de setembro, todas as sextas-feiras

Onde: TV Globo

Horário: 23h30

Comentários

  1. ... Qual eh a frase q aparece no inicio do primeiro episodio de Dupla Identidade ??

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  2. ... Qual eh a frase q aparece no inicio do primeiro episodio de Dupla Identidade ?? respondam no meu Face: fb.com/mouraluu

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  3. "A vantagem do rato sobre as vítimas do psicopata é que ele sempre sabe quem é o gato" (Robert Hare)

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