Aparência e caráter se confrontam em "Fina Estampa"

Tem um ditado que diz: "Por fora, bela viola; por dentro, um pau bolorento". Essa frase quer mostrar que, muitas vezes, as pessoas não são o que parecem ser e que, nem sempre, uma boa aparência guarda um interior igualmente belo. Esse é o fio condutor de "Fina Estampa", novela escrita por Aguinaldo Silva para o horário das 21 horas da TV Globo.
A trama tem como protagonista Griselda (Lilia Cabral), uma mulher que precisou ganhar a vida como faz-tudo para sustentar a casa depois que o marido foi dado como morto em um acidente de barco. Por causa do trabalho, ela ficou conhecida por seus clientes como "Pereirão, o marido de aluguel". A profissão também fez de Griselda uma mulher sem vaidade, com um visual mais abrutalhado e desleixado. Por conta disso, foi rejeitada pelo filho Antenor (Caio Castro) que, no seu noivado com Patrícia (Adriana Birolli), apresentou à família da noiva uma atriz que fingia ser sua mãe.
A farsa foi descoberta e a família de Griselda passou a figurar na lista de inimigos de Tereza Cristina (Christiane Torloni), a mãe de Patrícia que, ao contrário da protagonista, tem uma boa aparência, mas um caráter duvidoso. Como não poderia faltar um mocinho para o folhetim, Griselda constrói uma relação de amizade e trabalho com Renée (Dalton Vigh), o chefe de cozinha que é casado com Tereza Cristina.
Um dos enredos de "Fina Estampa" causou discussões antes mesmo da novela estrear. A trama do filho que rejeita a mãe parecia ser muito parecida com a de "Morde & Assopra", novela das 19 horas escrita por Walcyr Carrasco, que apresenta a rejeição de Guilherme (Klébber Toledo) pela mãe, Dulce (Cássia Kiss Magro). Honestamente, apesar das semelhanças, não consigo enxergar grandes pontos em comum entre as duas. Se formos observar a história da telenovela no Brasil, Griselda e Dulce não são as primeiras mães a serem rejeitadas por seus filhos e nem serão as últimas. Sou da opinião que, não importa se uma novela exibe uma trama que é um clichê entre os folhetins, desde de que a forma com que esse enredo é apresentado seja de qualidade, e isso depende muito do texto e dos atores. Nesses dois requisitos, "Fina Estampa" está bem servida.
O texto de Aguinaldo Silva é sustentado por diálogos fortes e por um humor ácido e afiado. Silva é mestre em criar apelidos e expressões para seus personagens, haja vista o que o autor faz com Crô (Marcelo Serrado), o mordomo de Tereza Cristina que idolatra a patroa chamando-a de "Rainha do Nilo" e "Pitonisa de Tebas", dentro outros nomes. O autor também guarda expressões engraçadas e politicamente incorretas para a própria patroa de Crô.
O confronto entre Griselda e Tereza Cristina é um ponto alto da novela. Enquanto Griselda é justa, bondosa e íntegra com todos, a antagonista Tereza Cristina é maldosa, preconceituosa e autoritária. Os caráteres das personagens são apresentados de maneira bem marcante e esse maniqueísmo é sempre um ingrediente que funciona na telenovela. Pegar o telespectador pela emoção também parece ser o foco de "Fina Estampa". A cena, por exemplo, da surra que Griselda deu no filho que a rejeitava tem a clara função de causar uma catarse no público, que cria mais identificação com o folhetim.
Sobre as atuações, os trabalhos de Lilia Cabral e Christiane Torloni merecem destaque, mesmo que esta última seja acusada de estar exagerada com sua personagem. Penso que, na verdade, a interpretação da atriz está exagerada porque a personagem tem essa característica. Atores como Eva Wilma, Dalton Vigh, Júlia Lemmertz, Dan Stulbach, Guida Vianna e Arlete Sales também chamam atenção.
Algumas tramas de "Fina Estampa", porém, precisam mostrar a que vieram. O núcleo da praia sempre aparece da mesma maneira, com os personagens jogando vôlei na areia, e nunca acrescenta grandes contribuições para a novela. A trama da médica Danielle (Renata Sorrah), que irá lutar pela guarda do sobrinho com os avós maternos do menino, também precisa ganhar fôlego. A taxista Vilma (Arlete Sales) também necessita de um "gás" em sua história, antes que a presença da atriz vire apenas uma figuração de luxo. 
De um modo geral, "Fina Estampa" é uma boa novela e só tem a ganhar se desenvolver suas tramas paralelas tão bem quanto a principal. Mesmo se isso não acontecer, o enredo central pode se sustentar sozinho, desde que venha acompanhado de muitas reviravoltas. E a primeira delas, quando Griselda ganhará na loteria e se mudará para a casa em frente à da rival, já está prestes a acontecer. Aguardem as cenas dos próximos capítulos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mesmo com protagonista descaracterizada, "Gabriela" foi bom entretenimento

Final de "Revenge" decepciona e desvaloriza confronto entre protagonistas

The Blacklist apresenta novo gancho para trama central e introduz spin-off arriscado