Teledramaturgia 60: as novelas marcantes - parte 1
Tem gente que diz que o futebol e o carnaval são as paixões do brasileiro. Eu acrescentaria uma terceira opção entre esses amores nacionais: as novelas. É óbvio que nem todo mundo gosta e que alguns ditos "intelectuais" torcem o nariz para o gênero, mas é impossível negar que a telenovela possui uma grande representatividade no cenário cultural e de entretenimento do país. Se essa representatividade é boa ou ruim, isso cada um julga como achar conveniente.
Em dezembro, a teledramaturgia brasileira completa 60 anos e, sem sombra de dúvidas, a novela é o produto de maior expressão da televisão no Brasil, gostem ou não. Sendo assim, decidi fazer uma brincadeira e produzir uma lista com as dez novelas mais marcantes da TV, claro, na minha modesta visão. Dividirei essas novelas em duas postagens, cada uma com cinco produções. É claro que não vi todas as novelas feitas até hoje e que, pelo critério das datas, não pude acompanhar produções que são consideradas clássicas como "O Bem Amado", "Dancin´Days" e "Selva de Pedra", mas sempre acho divertido fazer listas e, assim, poderia falar das novelas que mais gostei e que ocupam a minha memória. Aqui vão elas:
- Vale Tudo (1988) : Maracutaias, negociatas e o famoso "jeitinho brasileiro" estiveram presentes nessa novela de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. Sem fugir dos elementos clássicos de uma novela, "Vale Tudo" costurava suas tramas com discussões sobre ética e moral. Personagens emblemáticos como as vilãs Odete Roitman (Beatriz Segall) e Maria de Fátima (Glória Pires), a alcoólatra Heleninha (Renata Sorrah) e o trambiqueiro Marco Aurélio (Reginaldo Faria) marcaram a novela. E o mistério sobre o assassinato de Odete Roitman se transformou em um dos mais conhecidos da TV. Entre as cenas mais marcantes estão: a famosa "banana" dada por Marco Aurélio enquanto ele foge do Brasil; a revelação de que era Leila (Cássia Kiss) quem havia matado Odete; a protagonista Raquel (Regina Duarte) rasgando o vestido de noiva de Fátima; e a discussão sobre ética que Fátima tem com seu avô, logo nos primeiros capítulos. Novelão!
- Roque Santeiro (1985) : Essa aqui eu ainda nem terminei de ver. Mas, considerando os primeiros 90 capítulos, já posso dizer que está entre as melhores. A história de Roque Santeiro (José Wilker), considerado um herói por todos de Asa Branca e visto como um santo milagreiro pela população, discute a força de um mito e como isso pode influenciar a vida das pessoas. Escrita por Dias Gomes e Aguinaldo Silva, "Roque Santeiro" criou personagens antológicos da teledramaturgia brasileira como Sinhozinho Malta (Lima Duarte), Viúva Porcina (Regina Duarte), Zé das Medalhas (Armando Bogus) e Beato Salú (Nelson Dantas). Toda muito engraçada, a novela possui cenas e diálogos hilários. Entre os melhores momentos, destacam-se: a sequência em que Roque reaparece para seus antigos conhecidos; o despertar do coma de Beato Salú, considerado um milagre pelo povo de Asa Branca; os momentos em que Viúva Porcina trata Sinhozinho Malta como um "cachorrinho", fazendo-o lamber sua mão; e as noites em que um lobisomem vaga pelas ruas de Asa Branca. Imperdível.
- A Favorita (2008) : Escrita por João Emanuel Carneiro, a trama da novela se baseava na rivalidade entre as ex-amigas Flora (Patrícia Pillar) e Donatela (Cláudia Raia). Depois de se envolverem com o mesmo homem, Flora é condenada por tê-lo assassinado, mas jura inocência e diz que a culpada havia sido Donatela. O autor começou a novela sem revelar ao público quem estava falando a verdade e, só depois de dois meses no ar, descobriu-se que Flora era uma vilã daquelas. "A Favorita" tinha uma trama central tão forte que poucos núcleos paralelos completavam a história. As cenas dos crimes cometidos por Flora e os momentos em que a vilã arquitetava seus planos com o comparsa, Silveirinha (Ary Fontoura), estão entre os bons momentos da trama, que se caracterizava pelo bom texto. A cena da revelação de que Flora era a assassina e o momento em que Donatela desmascara a vilã e Silveirinha também merecem ser destacados.
- A Viagem (1994) : Escrita por Ivani Ribeiro, a trama abordava a vida após a morte através do encontro de Diná (Christiane Torloni) e do advogado Otávio Jordão (Antônio Fagundes). O irmão de Diná, Alexandre (Guilherme Fontes) foi responsável pelo assassinato de um homem e, para não ser condenado, Diná pede a ajuda de Otávio, que recusa. Alexandre, depois de ser preso, se mata na cadeia, mas seu espírito volta para atormentar todos os que ele considerava culpados pela condenação, inclusive o irmão Raul (Miguel Falabella) e o cunhado Téo (Maurício Mattar). Diná e Otávio, no início, não conseguem se entender, mas, depois, se apaixonam. O romance, no entanto, é interrompido porque o espírito de Alexandre provoca a morte de Otávio. A novela, então, começa a se passar num outro plano, conhecido pelos espíritas como "Nosso Lar". Depois de um tempo, Diná também morre, mas tem dificuldades de aceitar que existe vida além da vida. Junto com Otávio, ela decide ajudar Alexandre e libertá-lo do sombrio "Vale dos Suicidas", para o qual ele foi mandado.
Semana que vem, as outras cinco novelas que estão faltando na lista.
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