Personagem invisível determina acontecimentos de "A Vida da Gente"

"Tempo, tempo, tempo". Dentre tantos personagens que circulam por "A Vida da Gente", novela do horário das 18 horas da TV Globo, o mais atuante não tem rosto. Na verdade, até tem: pode ser representado pelos ponteiros de um relógio, que voam com as horas; ou pode ser um calendário pendurado na parede que, numa tarde de vento, vai perdendo suas páginas como se os meses passassem depressa. Na trama de "A Vida da Gente", o tempo é o desencadeador das ações da história.
A promissora tenista Ana Fonseca (Fernanda Vasconcelos) tem um futuro brilhante no esporte e é considerada uma das promessas brasileiras na modalidade. Mas, como todo esportista, Ana tem uma vida sacrificada, com muitas regras, disciplina e treinos. As responsáveis por manter a carreira da tenista nos trilhos são Vitória (Gisele Fróes), a treinadora; e Eva (Ana Beatriz Nogueira), a mãe.
Ana é a "filhinha do coração" de Eva, que não esconde de ninguém a preferência pela tenista. Com isso, Manuela (Marjorie Estiano), sua outra filha, cresce à sombra da irmã. Quando Eva se casou com Jonas (Paulo Betti), Ana e Manuela foram morar com sua nova família, que incluía os filhos do primeiro casamento de Jonas, Rodrigo (Rafael Cardoso) e Nanda (Maria Eduarda). A proximidade fez nascer um amor adolescente entre Ana e Rodrigo, mas a separação de seus pais os separou.
Querendo distância da família de seu ex-marido, Eva proíbe o romance de Ana, mas acaba descobrindo que a filha está grávida de Rodrigo. Para não prejudicar a carreira da tenista, Eva decide comunicar à imprensa que Ana teve um lesão e precisará de um ano de tratamento e repouso para se recuperar e voltar às quadras. Elas, então, viajam para que Ana tenha seu filho longe do Brasil e, assim, possa dá-lo para adoção e não prejudicar sua carreira.
Os planos de Eva dão errado porque Ana decide ficar com sua filha, Júlia, Na volta ao Brasil, para tentar solucionar o problema, Eva apresenta Júlia como sua filha e, para confirmar, também mostra que registrou a menina em seu nome. Assim, Ana poderia continuar com a carreira, que vai ser interrompida novamente após ela sofrer um acidente de carro, onde também estavam Manuela e Júlia. Ana, porém, é a única que se fere gravemente e entra em coma. 
Depois de tantos acontecimentos, o tempo volta a agir na vida dos personagens e, quatro anos depois, Rodrigo cria sua filha ao lado de Manuela, que agora é sua esposa. Durante todo o tempo em que estiveram juntos, os dois descobriram o amor. Porém, depois de tantos anos em coma no hospital, Ana começa a acordar. Mas, como ela vai reagir ao ver que a vida que ela deixou não existe mais? 
"A Vida da Gente" não abre mão de tramas clássicas dos folhetins e, ao mesmo tempo, também não aposta somente no usual. Os clichês estão presentes, mas com novas roupagens. O triângulo amoroso seria bem convencional se não fosse pelo fato de não haver um vilão no meio. As irmãs Ana e Manuela são virtuosas e boas moças, e isso deixa a torcida do espectador dividida entre as duas personagens. Os conflitos entre mãe e filha também já foram bastante abordados no teledramaturgia e, mesmo assim, os pontos altos da novela são os embates entre Ana, Manuela e Eva. O casamento de Vitória e Marcos (Ângelo Antônio) e a inseminação artificial feita pelo casal Jonas e Cris (Regiane Alves) são outros destaques da novela, que também apresenta um núcleo interessante da terceira idade, encabeçado pelos personagens Iná (Nicette Bruno) e Laudelino (Stênio Garcia).
Além do roteiro de Lícia Manzo, o elenco faz a diferença na novela. Marjorie Estiano, Gisele Fróes, Nicette Bruno, Maria Eduarda, Mallu Galli, Leonardo Medeiros e Leona Cavalli estão muito bem. Mas, o grande destaque é de Ana Beatriz Nogueira, que está impecável. A direção de Jayme Monjardim e, principalmente, a fotografia caprichada também chamam a atenção. As cenas e as cores da novela são cuidadosamente realizadas para transmitir a atmosfera de Porto Alegre, onde se passa a trama, e assim, fugir do universo solar do Rio de Janeiro ou dos prédios cinzas de São Paulo.
"A Vida da Gente" não é nenhuma grande inovação na dramaturgia, mas isso pouco importa quando uma trama é bem amarrada e possui bons personagens. O texto é bem maduro e foge do convencional no horário, que sempre priorizou o "água com açúcar". Em "A Vida da Gente", o tempo é mesmo "o senhor da razão" e dele dependem todos os acontecimentos da trama. Ali, o destino dos personagens é determinado pelo único personagem que aparece em todos os capítulos, mas ninguém vê: o tempo.

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