"Vale Tudo": reflexões sobre ética e a falta dela

Terminou. Leila (Cássia Kiss) matou Odete Roitman (Beatriz Segall), fugiu do país com o marido Marco Aurélio (Reginaldo Faria), que havia desviado uma quantia milionária da empresa em que trabalhava e, ainda, deu uma "banana" para o Brasil assim que o avião decolou. A reprise de "Vale Tudo", que teve seu último capítulo exibido nesta quinta-feira (14), no canal Viva, ficou marcada por todos esses desfechos citados.
Para mim, mais do que isso, "Vale Tudo" ficou marcada por ser uma novela que trata de ética e moral o tempo todo. Será que a ética de uma pessoa que "molha" a mão de um guarda, para se livrar de uma multa, é a mesma de uma pessoa que dá um desfalque em uma grande empresa? Ou será que infração é infração, não importa a gravidade do delito?
Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, autores da trama, criaram Ivan (Antônio Fagundes) com a função de fazer o telespectador pensar sobre ética no último capítulo. Enquanto que Marco Aurélio e Leila fugiam impunes dos crimes que cometeram, Ivan foi condenado a dois anos de prisão por ter subornado um funcionário público. Num discurso claramente dirigido ao brasileiro, o personagem diz esperar ser o primeiro de muitos a ser penalizado pelos crimes que cometeu. 
Raquel (Regina Duarte) se questiona de o porquê justo Ivan tem de pagar por um crime tão "pequeno", enquanto que tanta gente sai livre depois de cometer crimes mais "graves". Muita gente pensa assim. O que é "dar uma ajuda" para um guarda se ele me livrar de uma multa ainda maior? Pode parecer nada perto de tantos políticos que roubam ou de tantas pessoas que aplicam golpes milionários, mas é o começo de tudo isso. Só existe político ladrão e crime do colarinho branco porque, na base da sociedade, também tem gente que quer se dar bem a qualquer preço, dando o famoso "jeitinho".
"Vale Tudo" tratou disso logo em seus primeiros capítulos. A vilã Maria de Fátima (Glória Pires) pede ao avô (Sebastião Vasconcelos), funcionário público, que faça "vista grossa" para que um amigo dela possa entrar com mercadorias no país sem ter de pagar impostos. A impunidade que imperava (e até hoje impera) no país também foi retratada. Enquanto que os ricos fugiam do país de jatinho particular, os pobres foram jogados na cadeia. Por que só pobre se dá mal nesse país? Será que o Brasil tem jeito?
Talvez o Brasil ainda tenha jeito. Se o povo conseguir desistir de tentar levar vantagem em tudo, talvez haja uma esperança. Utopia? Pode até ser, mas não há mal nenhum em pensarmos que podemos "acabar de vez, com toda essa droga, que já vem malhada antes de eu nascer". Se ninguém faz a sua parte, como querer que o Brasil vá pra frente? Depois não adianta reclamar se alguém der uma "banana" para tudo isso aqui.

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