Telejornalismo em busca da descontração

Bom Dia Brasil - Divulgação/TV Globo
Já falei aqui sobre a necessidade de um aprofundamento das notícias no jornalismo de televisão, além da necessidade de quebrar um pouco a rigidez que se impôs até aqui. Esse assunto me veio à cabeça novamente por conta das mudanças no "Bom Dia Brasil", telejornal que a TV Globo apresenta em suas manhãs.
O "Bom Dia Brasil" teve, na última segunda-feira (26), cenário e âncora modificados. O telejornal conta, agora, com um estúdio que pode ser utilizado em sua totalidade. Além da clássica bancada, os âncoras e comentaristas contam com um telão, que pode ser utilizado tanto para exibição de gráficos quanto para a entrada de repórteres ao vivo; e com uma mini sala de estar, que já existia no cenário antigo e que serve para receber jornalistas e outros convidados. A apresentação do "Bom Dia" também passou por mudança: saiu Renato Machado, que será repórter especial em Londres, e entrou Chico Pinheiro. A linha editorial do jornal não sofreu grandes alterações.
Podem parecer bobas as razões que me levaram a pensar novamente neste assunto, mas essas mudanças significam um passo a mais para a descontração do telejornalismo e essa característica me alegra muito. Acho o jornalismo na TV aberta, em geral, muito engessado e sisudo, mas alguns focos que quebram essa rigidez têm surgido por aí nos últimos tempos.
O "Bom Dia Brasil", há muito tempo, não pode ser considerado um jornal dos mais engessados. Seu conteúdo editorial e a maneira de os âncoras conduzirem o jornal já é feita de uma forma mais descontraída, mas as mudanças pelas quais o jornal passou agora só acrescentam ingredientes para uma mistura que pode se tornar muito interessante. A presença de comentaristas no "Bom Dia" sempre foi outra característica que me agradou no jornal. Digo isso porque acredito que a descontração a que me refiro não deve ficar restrita apenas à postura dos apresentadores, mas, também, deve influir na maneira como a notícia é dada. A participação de analistas e comentaristas faz com que a notícia seja dada de maneira analítica e isso permite que o telespectador conheça os desdobramentos da informação.
"Jornal da Cultura: aprofundamento da informação
Outros telejornais na TV aberta já buscam tirar o "gesso" e seguir uma linha mais descontraída. O "Jornal da Globo" passou a dar mais espaço para a análise dos fatos e não se restringe mais a só apresentar a notícia de maneira seca e direta. O "Jornal da Cultura" passou, recentemente, por uma mudança e modificou toda sua estrutura, tornando-se também um telejornal mais analítico e evitando a sisudez a que estava acostumado. A TV a cabo parece ter descoberto esse lado descontraído há mais tempo e apresenta opções interessantes. Na Globo News, os jornais "Globo News edição das 10h", "Globo News edição das 18h" e o "Jornal das 22h" seguem essa linha menos engessada e contam com comentaristas que aprofundam a notícia. Ainda no canal, o "Estúdio i" é o melhor exemplo de que um jornal descontraído pode ser uma boa opção para o jornalismo. Com um capacitado time de comentaristas, responsáveis por repercutir os principais assuntos, a força da descontração do "Estúdio i" se deve à linha editorial e à maneira como a âncora Maria Beltrão o comanda. Ainda falando da TV a cabo, a Record News também deu sinais em direção à descontração. O "Jornal da Record News" passou por uma reformulação e agora conta com um quadro de comentaristas para discutir as notícias apresentadas. No jornalismo internacional, a CNN e a Fox News também apresentam telejornais pouco engessados.
Maria Beltrão no "Estúdio i": harmonia entre
descontração e informação
É obvio que tudo o que eu disse até aqui é uma opinião e, como tal, tem a ver com os meus gostos e conhecimentos sobre o assunto. Talvez, algum teórico da comunicação não concorde com o que escrevi. Mas, eu realmente acredito que a descontração é o melhor caminho para o telejornalismo, pois ela permite uma maior compreensão dos assuntos por quem assiste. Não se trata, no entanto, de subestimar a capacidade do telespectador e apresentar as informações como se estivesse fazendo isso para uma criança, mas trata-se de dar e comentar a notícia de uma maneira diferente, não tão presa e seca como é apresentada ainda em alguns jornais. 
A nossa televisão ainda está caminhando e tateando a descontração no telejornalismo, que não pode ser alcançada somente com uma mudança de cenário ou extinção de uma bancada. Ela deve ser possível na linha editorial do jornal, com as notícias sendo apresentadas de maneira menos seca e com mais aprofundamento. Se esses focos que estão surgindo significarem uma tendência, acredito em um futuro bem mais interessante para o jornalismo na TV.

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