Literatura que se vê

A novela "Gabriela" está no ar e a vontade de conhecer a história original de Jorge Amado através do livro "Gabriela Cravo e Canela" já está batendo. Sempre soube da importância de Amado para a literatura brasileira, mas, por algum motivo injustificável e imperdoável, só tive contato com o universo do autor pelas adaptações feitas para o cinema e televisão. Se bem que, assim, nem dá pode dizer que tive contato com o universo do autor porque, afinal, uma adaptação de uma obra é reescrita por outras pessoas com diferentes bagagens e visões sobre o mundo e o próprio livro.
No entanto, mesmo com algumas modificações, acredito que as adaptações para cinema e TV podem estimular as pessoas a conhecerem as obras literárias. Pelo menos, comigo foi assim. Esse é um aspecto que me faz descrer da ideia de que a televisão não é capaz de transmitir nenhum conteúdo ao telespectador. Mas, isso também depende do interesse do espectador, a TV não pode te transmitir nada se você não quiser.
Por conta do interesse por "Gabriela", comecei a lembrar de outras obras televisivas que me despertaram o interesse pelos livros. Vou falar de algumas delas, que ficam como dicas de leitura:

- Prendam Giovanni Improtta: Personagem que roubou a cena na novela "Senhora do Destino", o bicheiro Giovanni Improtta já era protagonista de uma obra literária. Aguinaldo Silva, autor tanto do livro quanto da novela, quis explorar a vida do bicheiro quando ele ainda estava envolvido em "negócios escusos". No romance, um detetive investiga um duplo assassinato que o leva até um contraventor "felomenal". Tudo isso, para revelar muito mais do que a televisão pôde mostrar.

- O Auto da Compadecida: Chicó e João Grilo não nasceram na TV, mas sim na literatura. Através das mãos e da mente de Ariano Suassuna, eles ganharam as telas, inclusive do cinema. Novos e já conhecidos personagens, como a mulher do padeiro, o cangaceiro Severino, o bispo e Nossa Senhora estão presentes na peça de Suassuna. Mesmo que as adaptações audiovisuais sejam boas, ler "O Auto da Compadecida" leva a um universo mais lúdico e inspirador.

- As Aventuras de Tintim: Ainda criança, a televisão me apresentou às aventuras do repórter Tintim e seu cachorro Milu, que viajam o mundo atrás de boas histórias. Agora, depois de velho, cheguei até os quadrinhos do cartunista Hergé, recentemente relançados. Isso me proporcionou uma agradável volta à infância. A série de histórias do personagem é vasta e vale a pena explorá-la.

- Ciranda de Pedra: A obra literária de Lygia Fagundes Telles se transformou em novela nos anos de 1981 e 2008. Na segunda versão, escrita por Alcides Nogueira, a história de Virgínia e suas duas irmãs foi suavizada e ganhou toques de folhetim. Mesmo assim, estavam presentes os conflitos com a mãe, que sofria de problemas mentais; com o namorado; e com o pai de criação.

- Aline: A transgressão de Aline em viver um relacionamento com dois homens, que convivem juntos num mesmo apartamento, ganhou sua versão light, porém igualmente engraçada, na série "Aline". No ano passado, as tiras de Adão Iturrusgarai ganharam uma coletânea imperdível, com histórias hilárias da personagem livre e decidida a viver intensamente essa relação.

- As Crônicas de Gelo e Fogo: A HBO adaptou "As Crônicas de Gelo e Fogo", de George R.R. Martin, e criou a excelente série "Game Of Thrones". Disputas pelo poder, incesto e muitas intrigas marcam o livro e a série, que é uma das melhores em exibição atualmente na TV.

- Mandrake, a Bíblia e a Bengala: A HBO brasileira também entrou na seara das série e escolheu adaptar as histórias de Rubem Fonseca para a TV. Mandrake é um advogado criminalista que se envolve em mistérios, rodeados por muita paixão, sexo e suspense. "A Bíblia e a Bengala" é uma boa oportunidade para conhecer mais sobre as histórias do advogado.

- Aos Meus Amigos: A amizade foi a fonte de inspiração da autora Maria Adelaide Amaral para criar "Aos Meus Amigos", romance que mais tarde deu origem à minissérie "Queridos Amigos". Na história, Léo descobre uma doença e decide que, antes de morrer, irá reunir seu grupo de amigos, afastados pelo tempo. A saga de Léo criou uma das mais belas homenagens à amizade que eu já li e, claro, assisti.

- Seringal: Escrito por Miguel Jeronymo Ferrante, "Seringal" deu origem à minissérie "Amazônia - De Galvez a Chico Mendes", que retratou a história do Acre, da floresta amazônica e de seus defensores. O livro é ambientado no início do século XX e fala dos coronéis autoritários e seringueiros que extraem e vendem a borracha nas colocações dos seringais acreanos. Sempre penso nesse livro como uma possibilidade de ter entrado em contato com um autor do Acre, que fale sobre a história desse Estado, tão distante para muitos.

- As Cariocas: Daniel Filho voltou à TV para adaptar a visão do autor Sérgio Porto sobre as mulheres cariocas. Ambientadas em vários bairros como Copacabana, Catete e Madureira, o livro diverte com histórias de beldades sensuais, invejosas e marcantes. Mulheres que são cariocas, mas podem estar em qualquer lugar do mundo.

- Mad Maria: Escrito pelo amazonense Márcio Souza, "Mad Maria" virou minissérie na TV e contou a história da construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré. No romance, o autor traz índios, empresários norte-americanos e trabalhadores braçais para mostrar os lados desumanos e políticos da instalação de uma estrada de ferro no meio da floresta Amazônia.

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