Bates Motel conclui construção de protagonista e caminha rumo a Psicose

A proposta inicial de "Bates Motel" não era nada fácil de ser cumprida. Os criadores da série queriam apresentar um prelúdio de "Psicose", livro que, depois, deu origem ao filme homônimo de Alfred Hitchcock, e construir a personalidade do clássico protagonista Norman Bates. Para isso, a produção percorreu caminhos mais amplos do que aqueles vistos na história original, chegou a se distanciar da referência original para criar uma personalidade própria e, agora, com a fim da quarta temporada, nesta segunda-feira (16), a série cumpre com seus objetivos e caminha para o derradeiro fim, quando deve se aproximar de sua inspiração.
No quarto ano, Norman (Freddie Highmore) está mais insano do que nunca, com seus problemas psicológicos relacionados à mãe cada vez mais evidentes. Os "apagões" do garoto passam a preocupar Norma (Vera Farmiga), que, depois de sempre fazer vista grossa sobre o problema, passa a considerar a necessidade de tratar o filho. A crise se agrava quando a mãe de Emma (Olivia Cooke), hospedada no motel, é morta por Norman. A preocupação faz com que Norma convença o filho a se internar em uma clínica.
A internação força Norman a se dedicar à terapia. As sessões com o médico Gregg Edwards (Damon Gupton) mostra que os "apagões" do garoto estão relacionados a traumas de infância e fazem surgir uma outra personalidade, que acredita ser Norma e age para proteger o filho. Caro, o tratamento vira motivo de preocupação para a mãe dele e faz com que ela decida se casar com o xerife Alex Romero (Nestor Carbonell) para usufruir dos benefícios de um plano de saúde que arque com as despesas da clínica.
A relação entre Alex e Norma acaba virando verdadeira e os dois decidem tentar viver uma vida normal de casados. Quem não gosta nada disso é Norman, que decide sair da clínica para voltar a viver com a mãe e, assim, afastá-la do xerife. O casamento acaba afetando mais os transtornos mentais de Norman  e culminam no assassinato de Norma. A dificuldade de aceitar a morte da mãe faz com que o protagonista se perca ainda mais em seus problemas e caminhe em direção aos fatos retratados em "Psicose".
"Bates Motel" é uma série criada de forma extremamente inteligente e eficiente. O primeiro ponto que prova isso é a forma como Norman é construído ao longo das temporadas. O arco narrativo do personagem é desenhado de forma coerente, com os conflitos sendo apresentados de forma gradual e, o mais importante, com muita calma, sem nenhum atropelo. Ele começa a trama como uma garoto estranho, inseguro e apegado à mãe e, quatro temporadas depois, se transforma no perturbado tipo visto em "Psicose", que acredita ser a mãe e é capaz de matar mulheres enquanto elas tomam banho.
A identidade da série é outro traço que mostra a qualidade da atração. "Bates Motel" começa amparada por referências sutis à história original, mas, em determinado momento, se distancia da inspiração e constrói um caminho próprio, capaz de apresentar novas facetas àquilo que já existe. Agora, perto de um desfecho, uma vez que a próxima temporada será a última, a produção volta a se aproximar do universo inicial e, com o fim da construção da personalidade de Norman, os últimos episódios prometem abrir espaço para uma leitura diferenciada do clássico enredo.
Por fim, é importante frisar que a série atingiu esse resultado graças, também, às atuações de Freddie Highmore e Vera Farmiga. Impecável, a dupla soube criar sua própria leitura dos personagens e apresentá-los ao público de forma completa. Gestos, intenções, nuances, tudo está ali para acrescentar qualidade ao roteiro e à direção. Sem dúvida, grandes trabalhos da televisão mundial, surpreendentemente ignorados nas grandes premiações.
Com o fim da quarta temporada, "Bates Motel" se aproxima do fim com a completa construção da personalidade de Norman e abre caminho para uma nova leitura de "Psicose", fiel às referências originais mas, ao mesmo tempo, extremamente inovadora e surpreendente. Espero ansiosamente para ver como o livro e o filme serão retratados, agora, na televisão.  

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