Transformações sutis no fim de "Downton Abbey" deixam espectador ávido por continuidade da série

A série inglesa "Downton Abbey" sempre baseou seus acontecimentos nas transformações pelas quais trabalhadores e aristocratas passaram a partir de 1912, com mudanças nos hábitos dos mais ricos e na ascensão dos mais pobres. Seis temporadas depois, a produção chega ao fim com um episódio que deixa as alterações definitivas dos personagens apenas insinuadas, deixando o espectador ávido por mais capítulos da história.
Encerrando sua trajetória de sucesso em um já clássico especial de Natal, exibido na Inglaterra na noite de 25 de dezembro, "Downton Abbey" trouxe os desfechos dos habitantes, dos andares de cima e de baixo, da imponente propriedade britânica. Depois do final feliz de Lady Mary (Michelle Dockery), que se casou com Henry Talbot (Matthew Goode) e seguiu administrando as terras da família ao lado do cunhado, Tom (Allen Leech), foi a vez de Edith (Laura Carmichael) ter sua cota de felicidade preenchida na série. Depois de se afastar de Bertie (Harry Hadden-Paton), que descobriu seu grande segredo do passado, a filha do meio da família Crawley acerta todas as diferenças com o pretendente e decide marcar o casamento.
Para que o pedido oficial seja formalizado, Lord Grantham (Hugh Bonneville) e Cora (Elizabeth McGovern) viajam até a propriedade da mãe de Bertie. Lá, no entanto, eles encontram uma mulher aparentemente intransigente, que vive em conflito com o filho. Para que a relação dê certo, Edith sente necessidade de revelar que a menina Marigold, criada como sua protegida, é, na verdade, sua filha. A descoberta de que a filha dos Crawley foi mãe solteira abala os planos do casal, mas logo a mãe de Bertie opta pela felicidade do filho e apoia a união.
Enquanto isso, em Downton, a ala dos criados passa por muitas transformações. Ensaiando uma redenção há algum tempo e com um aviso de que deveria deixar a propriedade, o lacaio Barrow (Rob James-Collier) encontra outro emprego e se despede de todos e parte para compor uma equipe reduzida de funcionários em um casa com rotina bem pacata. 
Desconfortável, há muito tempo, com as mudanças sociais da Inglaterra, especialmente após a Primeira Guerra Mundial, o mordomo Carson (Jim Carter) é o personagem que tem o destino mais alterado no último episódio. Vítima de um mal que o deixa sem firmeza nas mãos, o empregado mais antigo dos Crawley se vê forçado a abandonar suas funções e construir uma nova vida ao lado da esposa, Miss Hughes (Phyllis Logan). Contrariado, ele é obrigado a assumir uma função de consultoria e deixa o cargo de mordomo para um antigo lacaio da mansão.
Marcada pela qualidade do texto, "Downton Abbey" encerrou sua trajetória com um episódio atropelado, com muitos acontecimentos para serem resolvidos apenas em uma hora e meia. Com uma estrutura semelhante a um capítulo de novela, a série foi unindo todas as suas "pontas soltas" e acabou deixando a impressão de que algumas tramas poderiam ter sido melhor desenvolvidas ao longo da temporada, para que não tivessem um desfecho acelerado, como de fato ocorreu. 
Outro aspecto que também chamou a atenção foi a abordagem dada às mudanças nas vidas dos personagens. Caracterizada por mostrar como a sociedade se adaptava à ascensão da classe trabalhadora e à mudança dos hábitos da aristocracia, "Downton Abbey" teve o tema debatido de forma muito sutil no último episódio. Transformações como a da ajudante de cozinheira Daisy (Sophie McShera), que almejava uma carreira melhor a partir de seus estudos, foram apenas insinuadas. A cena em que a criada Anna (Joanne Froggatt) dá a luz no quarto de sua patroa também foi uma forma delicada de os autores sinalizarem tempos de mudança.
No mais, "Downton Abbey" continuou com direção e elenco excelentes. Interpretações impecáveis de todos os atores, sem exceções, foram fundamentais para que a série tenha feito tanto sucesso. Em meio a tantos talentos, fica impossível, porém, não citar a inesquecível interpretação de Maggie Smith, atriz genial que deu vida à Condessa Viúva da família Crawley. 
Mesmo com o final apressado e as insinuações de finais para os personagens, que podem ser justificadas pela intenção, ainda não confirmada, da realização de um futuro filme sobre a série, "Downton Abbey" chegou ao fim deixando o desejo de continuidade da série nos espectadores que, durante seis anos, acompanharam as alegrias e percalços de aristocratas e empregados fascinantes. Com certeza, um drama que entra para a história e fará falta na televisão mundial. 


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