"Inacreditável" escancara consequências das falhas no atendimento a vítimas de estupro
Divulgação/Netflix |
Baseada em um caso real, que gerou um artigo premiado com o Pulitzer, a minissérie, dividida em oito episódios, se passa, simultaneamente, em dois momentos distintos. O primeiro, em 2008, mostra Marie Adler (Kaitlyn Dever), uma jovem que passou a infância em lares temporários e vive assistida por um programa que oferece moradia e aconselhamento. Em uma determinada noite, ela é surpreendida por um homem mascarado que a estupra. Para isso, ela é amarrada, psicologicamente torturada e, ainda, fotografada naquela situação.
Na manhã seguinte ao crime, depois de ser socorrida por uma vizinha, Marie avisa a polícia sobre o estupro e passa a responder a exaustivos interrogatórios sobre os acontecimentos. Abalada, apesar de tentar demonstrar resistência, a jovem é submetida a todos os procedimentos de praxe para a investigação, mas ainda lida com uma carga a mais: dois investigadores que, apesar do aparente apoio à vítima, buscam inconsistências na narrativa da garota, ainda bastante confusa com tudo aquilo.
Depois de algumas informações imprecisas e até de uma dúvida plantada por Judith (Elizabeth Marvel), a responsável por um dos lares temporários por onde a jovem passou, Marie passa pelo desgaste emocional de ser descreditada pelos investigadores, que conseguem, inclusive, uma confissão da vítima de que toda aquela história tinha sido inventada.
Em paralelo, a trama também foca em uma investigação conduzida, três anos depois, pelas investigadoras Grace Rasmussen (Toni Collette) e Karen Duvall (Merritt Wever), que buscam o responsável por uma série de estupros. As pistas, apesar do cuidado que o criminoso tem em não deixar evidências, sugerem uma forma de atuação semelhante ao do caso de Marie.
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Na história, Marie é submetida a exaustivos e insensíveis depoimentos, que priorizam a busca por inconsistências na narrativa da vítima, e não o acolhimento e a integridade psicológica da mulher violentada. Os episódios também exploram como os erros daquela investigação produziram efeitos traumáticos à vida da jovem e, até mesmo, de outras mulheres que sequer estavam diretamente ligadas a ela.
Além da força narrativa, "Inacreditável" é resultado, também, de um ótimo trabalho do elenco, a começar por Kaitlyn Dever, que imprime fragilidade, angústia e indignação em gestos singelos e olhares hesitantes. A construção da dupla de investigadoras, equilibrada pela rigidez de Toni Collette e a cumplicidade de Merritt Wever, faz toda a diferença para a história. Esses desempenhos potencializam o debate sobre as falhas do sistema.
Diria que "Inacreditável" é fundamental para a reflexão sobre as redes de atendimento a mulheres vítimas de violência sexual, que evoluíram muito nos últimos anos, mas ainda lidam com limitações e abordagens erradas, comprometendo a integridade mental das vítimas e facilitando, infelizmente, situações para que outras surjam.
INACREDITÁVEL (minissérie em oito episódios)
ONDE: Netflix
COTAÇÃO: ★★★★ (ótima)
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