Seis motivos para acompanhar a reexibição de "Avenida Brasil"

Reprodução/TV Globo

A TV Globo confirmou, no fim de semana, que a novela "Avenida Brasil", exibida em 2012 com sucesso, vai ser reapresentada na faixa do "Vale a Pena Ver de Novo" a partir de outubro, sucedendo "Por Amor", clássico de Manoel Carlos que manteve bons índices de audiência no horário. Bastou a notícia ser divulgada pelo jornalista Flávio Ricco e, depois, ser cravada pela emissora para que os fãs do folhetim usassem as redes sociais para comemorar a volta dos moradores do fictício bairro do Divino à programação televisiva.
O entusiasmo do público com a reexibição de "Avenida Brasil" é mais do que compreensível. Escrita por João Emanuel Carneiro, a trama foi o último grande fenômeno de repercussão do horário nobre das novelas da emissora. Óbvio que outros sucessos vieram depois, mas, certamente, nenhum deles causou tamanha comoção, o que permitiu que a história entrasse para a lista das mais importante do gênero.
Tendo a vingança como o fio condutor da trama, "Avenida Brasil" trouxe um texto inspirado de Carneiro, que criou grandes embates entre os personagens e diálogos marcantes, que, até agora, sete anos depois da exibição original, ainda seguem vivos na memória do público. Na época, o sucesso do folhetim também foi atribuído à abordagem dada ao que se chamou de "nova classe média brasileira", que adquiriu poder de compra e escolheu não deixar as raízes, modificando e expandindo os subúrbios do país.
Enquanto "Avenida Brasil" não reestreia, resolvi elencar alguns dos motivos para acompanhar novamente essa trama que, muito mais do que um sucesso, foi um fenômeno de repercussão, até então, não repetido no principal horário de folhetins da televisão brasileira.

Divulgação/TV Globo
- Vingança e perdão

O tema pode ser considerado clássico ou, até mesmo, um clichê do gênero. De "O Conde de Monte Cristo" a "Revenge", a vingança já foi explorada de diversas formas no mundo do entretenimento, inclusive na TV brasileira. Nesse universo, "Avenida Brasil" talvez seja a principal representante. Ressentida e com raiva do passado, Nina (Débora Falabella), que era chamada de Rita quando criança, decide se vingar da madrasta Carminha (Adriana Esteves), que deu um golpe em Genésio (Tony Ramos), o pai dela, e fez com que a garota fosse abandonada em um lixão. Infiltrada da casa da nova família de Carminha, Nina executa planos para tripudiar da madrasta até que a verdadeira identidade dela vem à tona. A partir daí, mocinha e vilã travam embates marcantes, inclusive invertendo os papéis e extrapolando o tradicional maniqueísmo do gênero. No final, ao invés de resultar em tragédia, a trajetória das personagem termina abrindo um árduo caminho em direção ao perdão.

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- Prólogo

Antes de mergulhar propriamente na trama da vingança de Nina/Rita, "Avenida Brasil" teve um prólogo muito bem estruturado, que, para muitos, deu um impulso importante para o sucesso da novela. Os primeiros capítulos se dedicaram a mostrar a relação entre Rita (Mel Maia) e Carminha, além de inserir o jogador de futebol Tufão (Murilo Benício) como um elemento de ligação para o reencontro das personagens depois. A morte de Genésio provoca uma virada na vida de Rita, que é abandonada pela madrasta e, depois, adotada por uma família de argentinos. Misturando elementos lúdicos e muito realistas, o folhetim ainda apresenta o lixão como um cenário relevante para a história, que explica escolhas e justifica atitudes dos personagens.

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- Carminha

Toda novela precisa de um vilão para movimentar a história. Em "Avenida Brasil", essa função era executada por Carminha, uma golpista capaz de maltratar uma criança, encaminhar a morte do marido e, ainda, manipular um homem culpado para ascender socialmente. Fingindo gostar da família de Tufão, com quem casou após a morte de Genésio, Carminha escolhe os momentos em que está sozinha ou na companhia do comparsa Max (Marcello Novaes) para revelar o que pensa realmente sobre aquelas pessoas. Rechaçando hábitos suburbanos e fingindo ser uma ferrenha religiosa, a vilã sofre nas mãos de Nina/Rita para esconder todos os podres do passado, até que a máscara cai e ela assume a verdadeira personalidade. Perto do fim da novela, a chegada do pai de Carminha, vivido por Juca de Oliveira, humaniza a personagem e deixa uma esperança de redenção.

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- Mel Maia

Mesmo presente apenas nos capítulos iniciais, Mel Maia, vivendo Rita quando criança, chamou atenção e foi uma força presente ao longo de toda a novela, ainda que estivesse fora de cena. O desempenho da garota fez com que o público se envolvesse ainda mais com o drama da personagem. Carismática e bem dirigida, a atriz potencializava os sentimentos de Rita, que ia de momentos de ternura com o pai até o sofrimento nas mãos da madrasta, passando pelo medo de ser abandonada no mundo. A sequência em que a jovem é deixada no lixão, aliás, é uma das mais emocionantes da novela. Mesmo fora do ar na maior parte de "Avenida Brasil", de alguma forma, a atuação de Mel Maia esteve presente até o fim, contribuindo, inclusive, para a empatia do público com a versão adulta e vingativa.

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- Direção rápida e mais realista

A direção de "Avenida Brasil" foi fundamental para o sucesso do folhetim. Do núcleo de Ricardo Waddington, a direção geral ficou por conta de Amora Mautner e José Luiz Villamarim, dois profissionais com uma estética muito marcante na TV. Rápida e com uma câmera "nervosa", que dava mais movimento às cenas e inseria o espectador nas ações dos personagens, a novela mantinha o público curioso e envolvido com o universo daqueles personagens. Também é preciso destacar uma característica, atribuída ao trabalho de Amora Mautner: a construção de uma maior naturalidade nas cenas. Enquanto dois personagens dialogavam, a diretora mantinha falas de coadjuvantes ao fundo e outros sons do ambiente, que compunham um cenário mais realista do que o clássico tempo dos folhetins, em que os atores esperam os colegas darem o texto para falar e onde se houve pouca interferência externa.

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- Coadjuvantes

Para apoiar o embate entre Nina/Rita e Carminha ou, até mesmo, para representar um alívio ao drama central, "Avenida Brasil" contava com um sólido quadro de coadjuvantes. Na parte dramática da novela, é essencial reconhecer a contribuição de Lucinda (Vera Holtz) e Nilo (José de Abreu), dois personagens que serviam para conectar outros elementos da trama e revelar segredos. No campo da comédia, não há como esquecer de Leleco (Marcos Caruso); Muricy (Eliane Giardini); e Zezé (Cacau Protásio), que roubou a cena como a empregada de Carminha. Até mesmo no núcleo mais fraco da novela, do bígamo Cadinho (Alexandre Borges), as esposas do personagem, Verônica (Débora Bloch), Noêmia (Camila Morgado) e Alexia (Carolina Ferraz), emprestavam sustentação e carisma às cenas.

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