Quatro motivos para maratonar "A Favorita" no Globoplay e um defeito para relevar

Divulgação/TV Globo

Duas mulheres. Duas versões de uma mesma história. Quem está dizendo a verdade? Em 2008, quando "A Favorita" estava prestes a estrear, as chamadas que anunciavam a novela usavam o conflito entre Flora (Patrícia Pillar) e Donatela (Cláudia Raia), assim como a dúvida sobre as versões das histórias contadas por elas, para despertar a atenção do público. Agora, 12 anos depois, muita gente já sabe o grande segredo que movimentou os dois primeiros meses da trama de João Emanuel Carneiro, mas, ao que parece, isso não compromete em nada o interesse pelo folhetim, que fica disponível, a partir desta segunda-feira (25), no catálogo do Globoplay.
Desde que foi anunciada, a volta de "A Favorita" movimentou as redes sociais. Fãs da novela comemoraram a possibilidade de rever o embate entre as personagens, mesmo que a grande dúvida sobre o caráter delas já não exista mais. Nisso, há uma semelhança com a época em que a trama foi ao ar pela primeira vez. Sem saber quem era a mocinha e a vilã, o público resistiu a essa incerteza e pedia que o segredo viesse à tona. Depois que Flora se revelou uma assassina, o interesse pela história só aumentou.
Agora, de alguma forma, esse entusiasmo se repete. Quem viu a novela na época se empolga com a possibilidade de acompanhar o folhetim sabendo, logo de cara, da verdadeira personalidade das protagonistas. Isso se explica pela qualidade do texto de Carneiro, que consegue prender o espectador em cada reviravolta que afeta Donatela e nas maldades de Flora.
Amigas de infância, as personagens formavam uma dupla sertaneja, que recebeu o nome de "Faísca & Espoleta". A carreira artística delas, que era agenciada por Silveirinha (Ary Fontoura), acabou depois que Donatela se apaixonou por Marcelo (Flávio Tolezani) e a amizade entre elas desandou de vez quando Flora teve um caso com o namorado da amiga. A crise culminou no assassinato de Marcelo e com Flora indo parar na cadeia pelo crime, porém, sempre jurando inocência.
Ainda que o grande segredo de "A Favorita" já não seja mais novidade, a chegada da novela à plataforma de streaming do Grupo Globo é uma ótima oportunidade para rever a história com outros olhos e se entreter com uma trama interessante, ainda mais em tempos de quarentena. Aproveitando esse gancho, listo quatro motivos para maratonar o folhetim e aponto um defeito, que até pode ser relevado diante do todo.

MOTIVOS PARA MARATONAR

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- Proposta incomum

Ao contrário da maior parte dos folhetins, onde mocinhos e vilões são apresentados logo de cara, "A Favorita" decidiu apostar na dúvida sobre o caráter de Flora e Donatela, algo que João Emanuel Carneiro aprimoraria depois em "Avenida Brasil". Disfarçando o maniqueísmo tradicional, o autor passou quase dois meses deixando o público com as mesmas incertezas dos personagens da trama, que também não sabiam direito em quem acreditar. Com a verdade revelada, os espectadores passaram a acompanhar a escalada de maldades de Flora e a jornada de sofrimento de Donatela, que, depois, acabou sendo acusada pela morte do marido. Com essa proposta, Carneiro também brincou com uma percepção do público de que os ricos são sempre maus e os pobres são boas almas. A riqueza de Donatela passava uma imagem de arrogância, mas a verdadeira mau caráter era a "humilde" Flora.

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- A vilã

As novelas, de uma forma geral, dependem dos vilões para funcionar. São eles que dão movimento às tramas, que provocam os acontecimentos. "A Favorita" colocou Flora no grupo das grandes personagens más da TV brasileira. Depois de passar vários capítulos escondendo o verdadeiro caráter, a inimiga de Donatela foi capaz de cometer mais crimes para colocar a ex-amiga na cadeia e ganhar a confiança da família Fontini, sempre com interesse na fortuna do clã. Carneiro criou uma vilã convicta das maldades que fazia, sem apelar para qualquer sinal de loucura, e acrescentou um toque de humor à personagem, o que permitia que ela dissesse os maiores absurdos de seus alvos, especialmente de Donatela, da filha Lara (Mariana Ximenes) e de Irene (Glória Menezes), mãe de Marcelo.

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- Cenas marcantes

"A Favorita" é cheia de cenas marcantes, que provam a inspiração do autor nesse trabalho. Entre elas, está a sequência de revelação das posições de Flora e Donatela na trama. Carneiro estabeleceu, nesse momento, uma carga de tensão que é transferida para o espectador na mesma intensidade. Outro ponto marcante foi a descoberta de que Silveirinha conspirava com Flora para derrubar Donatela. Quando a mocinha descobre, confronta o ex-empresário, que acaba despejando todas as mágoas que tinha dela. O personagem ainda cospe na cara de Donatela, que fica sem ação. Cláudia Raia revelou que Ary Fontoura improvisou na cuspida, que não estava no texto. Essa sequência provocou o despejo de Silveirinha do apartamento onde morava. A sofisticação da armação de Flora para provocar a morte de Gonçalo Fontini (Mauro Mendonça) também merece lembrança.

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- Elenco

O grupo de atores escalados para a novela é grande responsável pelo sucesso da trama. Cláudia Raia teve o melhor personagem dramático da carreira e Patrícia Pillar, depois de muitas personagens com ares angelicais, aproveitou muito bem a oportunidade de viver uma grande vilã. Ary Fontoura, como o rancoroso Silveirinha, foi outro destaque. Glória Menezes, Mauro Mendonça, Elizangela, Tarcísio Meira, Genésio de Barros, Murilo Benício e Suzana Faini são outros nomes fortes do elenco. "A Favorita" contou, ainda, com uma luxuosa participação de Walmor Chagas, figura bissexta no gênero.

DEFEITO PARA RELEVAR

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- Tramas paralelas fracas

É bem verdade que somente as nuances da rivalidade entre Flora e Donatela já são suficientes, mas "A Favorita" pecou pela qualidade das tramas paralelas. Com ótimos nomes entre os coadjuvantes, a novela poderia ter se beneficiado disso para entregar histórias melhores que circundassem o fio condutor da trama, servindo, inclusive, de alívio ou outros focos de atenção interessantes. Porém, não foi isso o que aconteceu. Mesmo com atores que chamaram a atenção, as tramas paralelas foram ofuscadas pelo drama central e não ficaram tão marcadas na memória como o conflito entre as protagonistas. Nisso, nomes como Lília Cabral, Milton Gonçalves, Taís Araújo e outros saíram desse sucesso apagados. 

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