"Onde Nascem os Fortes" estabelece conflitos e impressiona com estética cinematográfica

Divulgação/TV Globo
Um sertão árido, moderno, provocante e contraditório promete ser palco e um dos personagens dos conflitos que começaram a ser estabelecidos no primeiro episódio de "Onde Nascem os Fortes", produto que, depois de ser chamado de "novela das 23h", passou a ser conhecido como supersérie. Apostando no embate entre as figuras centrais, a trama, logo de cara, impressionou pela estética cinematográfica, que só valoriza mais o cenário.
Escrita por George Moura e Sérgio Goldenberg, os mesmos de "Amores Roubados" e "O Rebu", a nova supersérie aposta em elementos clássicos da dramaturgia como romance, rivalidade e poder. Os primeiros em cena são Maria (Alice Wegmann) e Nonato (Marcos Pigossi), irmãos gêmeos que viajam para a cidade de Sertão, o que gera preocupações para a mãe, Cássia (Patrícia Pillar), que nasceu no local e parece ser marcada por algo que aconteceu ali no passado.
Durante um passeio de bicicleta, Maria conhece Hermano (Gabriel Leone), um jovem interessado por paleontologia e pelo passado daquela região. Os dois combinam de se encontrar, naquele mesmo dia, em um show da Shakira do Sertão (Jesuíta Barbosa), um travesti que faz sucesso entre os moradores e turistas. A jovem convence o irmão a ir junto, sem imaginar que Nonato se envolveria em uma briga com Pedro Gouveia (Alexandre Nero), um dos homens mais poderosos do local.
Empresário de sucesso, Gouveia é considerado uma das figuras mais influentes de Sertão, mas vive problemas no casamento com Rosinete (Debora Bloch) e ainda lida com a doença grave da filha. O conflito com Nonato se dá quando o jovem decide desafiar aquela figura de poder e demonstrar interesse por Joana (Maeve Jinkings), a amante do empresário.
Divulgação/TV Globo
Ainda é cedo para falar sobre a qualidade da trama de "Onde Nascem os Fortes", mas, julgando o primeiro episódio, a dupla de autores parece criar uma narrativa bem estruturada, que explora elementos clássicos e, ao mesmo tempo, propõe um desenvolvimento mais aprofundado dos personagens. A apresentação das figuras centrais da trama, aliás, dominou o início da história e, mesmo feita de forma até bem tradicional, revelou as informações necessárias para a formação do enredo e deixou pontas soltas para serem desvendadas ao longo da supersérie.
A ambientação da história foi um dos grandes êxitos da estreia. Sabiamente, os autores criaram, como pano de fundo, um universo de contradições gerado por um cenário instigante, inóspito e deslumbrante. A cidade de Sertão traz elementos de modernidade, como carros luxuosos e objetos tecnológicos, mas, paralelo a isso, também foca na tradicional influência do poder econômico nessas regiões, especialmente na figura do empresário Pedro Gouveia, um "coronel moderno". Com pouco espaço no primeiro episódio, o juiz Ramiro (Fábio Assunção), outra representação de poder naquele lugar.
A direção cinematográfica da supersérie é outro destaque positivo. Comandada por José Luiz Villamarim, a equipe de diretores, que ainda conta com o renomado cineasta Walter Carvalho, levou ao público cenas com um tratamento especial. Com paisagens que serviram como molduras, as belas imagens da câmera em movimento de Villamarim impressionaram e, mais uma vez, elevam o padrão de qualidade da TV, muito habituada aos enquadramentos tradicionais dos folhetins. A bonita fotografia ajuda a valorizar o sertão, trazendo uma luz estourada que remete ao calor e ao clima seco da região.
"Onde Nascem os Fortes" ainda tem um longo caminho a percorrer, mas já trouxe elementos interessantes no primeiro episódio, que sinalizam, inclusive, mais um trabalho de qualidade da dupla de autores, talvez os mais ousados dos últimos anos na televisão brasileira. Com os conflitos já estabelecidos e uma bela estética cinematográfica, a supersérie tem potencial para fidelizar o público, especialmente aqueles que buscam uma dramaturgia mais complexa e instigante.

ONDE NASCEM OS FORTES

ONDE: TV Globo

COTAÇÃO DA ESTREIA: ★★★★ (ótima)

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