Cinco trabalhos marcantes de Fernanda Montenegro na TV

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Reportagens, especiais, homenagens, livro. O mês de outubro tem sido repleto de citações e comemorações aos 90 anos de Fernanda Montenegro. Também pudera, trata-se de uma das melhores atrizes de todos os tempos, não só do Brasil, mas do mundo. Para mim, a melhor, chamem de bairrismo ou do que quiserem. Fernanda é única, nos gestos e, especialmente, no olhar que transborda emoção a cada trabalho.
Nessas nove décadas, teve uma carreira próspera e virou uma presença marcante nos palcos, nas telonas e, também, dentro da casa das pessoas, onde as TV´s, muitas vezes, são mais do que um aparelho eletrônico na sala. Através dessa "janela", o público viu Fernanda de maneiras diferentes. No início, ela aparecia nos teleteatros, levando clássicos da dramaturgia para perto daqueles que ainda descobriam a televisão.
Não demorou e Fernanda Montenegro estreou nas novelas. Ainda com a influência do teatro muito presente, experimentou o gênero pela primeira vez em "A Morta Sem Espelho", de 1963, um texto assinado pelo dramaturgo Nelson Rodrigues, figura sempre presente na vida artística da atriz.
O grande talento, que a fez ficar conhecida como uma dama das artes, também permitiu que Fernanda tivesse êxitos muitos populares na TV. Com outro parceiro, o autor Silvio de Abreu, fez comédias marcantes, com "Guerra dos Sexos" e "Cambalacho", e uma das maiores vilãs da dramaturgia nacional, em "Belíssima".
Versátil, trabalhou com outros grandes autores, em trabalhos muito diferentes. Manoel Carlos, Gilberto Braga, Benedito Ruy Barbosa, Maria Adelaide Amaral, todos responsáveis por textos engrandecidos pela interpretação da atriz.
Aproveitando os 90 anos da grande Fernanda Montenegro, comemorados nesta quarta-feira (16), vale a pena relembrar alguns trabalhos que fizeram da artista uma presença marcante e necessária na televisão brasileira.

Reprodução/TV Globo
1) Guerra dos Sexos (1983)

A novela de Silvio de Abreu garantiu que, ao lado do grande Paulo Autran, Fernanda Montenegro estivesse na cena mais reprisada da história da TV brasileira. A comédia, exibida no horário das 19 horas, mostrava uma disputa entre homens e mulheres, encabeçada por Charlô (Fernanda) e Otávio (Autran), primos obrigados a trabalhar juntos para receberem a herança de um tio falecido. O ápice dessa "guerra" de gêneros é a clássica sequência em que Charlô e Otávio sentam à mesa para um café da manhã, mas acabam cobertos de leite, iogurte e doces servidos pela empregada Olívia (Marilu Bueno). A graça da cena já começa no fato de ser protagonizada por duas lendas do teatro, conduzidos a um pastelão pelo diretor Jorge Fernando. Não vi "Guerra dos Sexos" no ar, mas esse momento fez a novela ultrapassar a barreira do tempo e se tornar icônica no gênero.

Divulgação/TV Globo
2) Belíssima (2005)

Uma grande atriz merece viver uma vilã da mesma magnitude. Pelas mãos de Silvio de Abreu, o parceiro das comédias, Fernanda Montenegro foi Bia Falcão, uma inescrupulosa empresária do ramo de lingeries. A principal vítima da personagem era a neta Júlia (Glória Pires), desprezada pela avó por não ter os atributos físicos da mãe, uma modelo de sucesso. As maldades de Bia, no entanto, não escolhiam alvos e eram direcionadas a quase todos na trama. Em determinado momento, a vilã é dada como morta, mas, não muito tempo depois, surge imponente e como se nada tivesse acontecido, alimentando um dos mistérios da história. No final, após a descoberta de uma filha indesejada, Bia foge da polícia e termina impune ao lado de um amante, em Paris.

Divulgação/TV Globo
3) Doce de Mãe (2014)

 Ótima em comédias, como já tinha ficado provado a essa altura, Fernanda Montenegro protagonizou a série "Doce de Mãe" e teve a oportunidade de se esbaldar ainda mais no gênero. A atriz era Dona Picucha, uma idosa ativa, independente e bem humorada. Percebendo que não pode mais viver sozinha, a personagem decide não recorrer aos filhos e escolhe viver em uma casa de repouso, o que acaba, inclusive, transformando a vida de outros idosos. A série tinha um texto inspirado e momentos muito engraçados, como quando Picucha cria um serviço de "aluguel de idosos" para que clientes pudessem estacionar em vagas especiais ou furar filas. No fundo, "Doce de Mãe" passava uma mensagem de valorização da terceira idade, muitas vezes deixada de lado e tida como "inútil". Com o trabalho, Fernanda projetou, mais uma vez, a carreira internacionalmente e venceu o Emmy pelo papel.

Divulgação/TV Globo
4) Hoje é Dia de Maria (2005)

Nas fábulas, a figura da madrasta é muito recorrente, quase sempre como uma antagonista à personagem central. Em "Hoje é Dia de Maria", de Carlos Alberto Soffredini, Fernanda Montenegro viveu Madrasta, que infernizava a vida de Maria (Carolina Oliveira), que decide sair de casa por conta das maldades da mulher do pai, vivido por Osmar Prado. Adaptada por Luiz Fernando Carvalho e Luís Alberto de Abreu, a série mostrou Fernanda inserida em um universo teatral mágico e inspirador. Mesmo em um papel coadjuvante, a atriz teve uma presença marcante na história, assombrando os pensamentos da menina Maria. Depois, em uma segunda temporada, Fernanda voltou a "Hoje é Dia de Maria" como Dona Cabeça, personagem de outra jornada da protagonista, mas foi mesmo como Madrasta que ela brilhou.

Divulgação/TV Globo
5) Babilônia (2015)

Em plena estreia de "Babilônia", novela de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, Fernanda Montenegro esteve no centro das discussões sobre o folhetim. Em pleno século 21, foi considerado polêmico que a advogada Teresa desse um simples beijo em Estela (Nathália Timberg), com quem era casada há mais de 30 anos. A reação irracional e exagerada, inclusive, foi apontada como uma escolha que explicaria, nos meses seguintes, uma rejeição do público pela trama. Fernanda não se intimidou e disse ter pedido para que o beijo entre as personagens ocorresse logo. Ela considerou que, mais do que uma demonstração de amor entre duas mulheres, a cena chocou o público pelo fato de ter sido entre "duas velhas", usando as palavras da atriz. Denunciando e desafiando esses preconceitos, Fernanda seguiu forte com a personagem e registrou mais esse marco na carreira.

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