Fenômeno sim, santo não

Ontem, não adiantava zapear! Quem trocava de canal, só via Ronaldo! A notícia de que o fenômeno da bola estava se aposentando repercutiu em todos os programas e telejornais. O mundo parava para anunciar a despedida de um dos seus maiores jogadores.

Os programas esportivos e canais de notícias começaram, desde as primeiras horas do dia, a noticiar a coletiva de despedida, que só começaria às 13 horas. O sentimento era um só: todos estavam tristes com o adeus do eterno camisa 9!

Ronaldo adentrou a sala de imprensa do CT do Corinthians e despejou tudo! Falou sobre as dores que sentia, a paixão pelo Timão e sobre o hipotireoidismo, doença que o acomete desde 2007. O artilheiro de todas as Copas dizia que tinha "perdido para o próprio corpo". Não aguentava mais! Pediu desculpas à fiel torcida pelo fracasso do projeto Libertadores. Disse adeus!

Ainda garoto, começou a carreira no São Cristovão, time pequeno do Rio de Janeiro. Depois, foi para o Cruzeiro e ganhou o mercado internacional indo para o PSV, da Holanda. Transferiu-se para o Barcelona e fez 17 gols em 20 partidas. Nascia o Fenômeno! Foi para a Inter de Milão, Real Madrid, Milan. Chegou ao Corinthians e fez a festa do "Bando de Loucos". Mas, nunca são apenas flores. Lesões, cirurgias, fracassos e protestos permearam a carreira de Ronaldo.

Muitas foram as especulações: Por que ele vai parar? Será que sua decisão teve a ver com torcida do Corinthians? Ou será que suas dores não lhe permitem mais jogar? Sinceramente, acho que foi um pouco dos dois! As dores, como ele mesmo disse, não permitiam mais que ele subisse direito uma escada. Mas, também, a parte da torcida do Timão que reagiu com brutalidade e vandalismo à derrota contra o Tolima, na Pré-Libertadores, teve peso na sua decisão. Não acho que ele tenha se intimidado mas, acredito que se cansou de tudo isso. Afinal, o artilheiro de todas as Copas não precisa ficar aturando violência de torcida nessa altura da vida e da carreira.

Santificado seja o fenômeno! Será que é pra tanto? Acho que não! Só se falaram maravilhas do Ronaldo depois do fatídico anúncio de aposentadoria. Mas, na minha opinião, ele errou! Ronaldo sempre foi muito cobrado sobre seu peso. O torcedores sempre esperavam pelo emagrecimento do Fenômeno: "Ele vai voltar à forma!". Ontem, revelou que tinha hipotireoidismo e que escolheu não se medicar porque as substâncias surgiriam nos exames antidopping. Engordou por causa disso! Ele sabia, o Corinthians sabia, mas a torcida não sabia! Ronaldo, pelo menos que eu me lembre, nunca veio a público para dizer: "Tenho hipotireoidismo e minha condição física é essa!"

Alguns vão dizer que ele não deveria ter dito nada porque a doença faz parte de sua vida pessoal. Verdade! Mas, como acontece com os políticos no mundo eleitoral, a vida privada se torna pública quando interfere nos seus atos. Quando algum político adoece e se candidata para algum cargo público, os eleitores logo se perguntam: Ele vai aguentar até o fim do mandato? Ele está em condições de exercer essa função? No Brasil, onde o futebol é tão ou mais importante que a política, a Fiel Torcida tinha o direito de saber da doença de Ronaldo, de saber em quem estava "votando" para representar seu time!

Escondendo isso, o próprio Fenômeno estimulou os comentários maldosos sobre seu peso. Tudo isso poderia ter sido evitado se ele e o Corinthians, que sabia da real condição do jogador, tivessem jogado limpo com a torcida. Isso poderia ter feito com que os torcedores não criassem tantas esperanças e cobrassem tanto de Ronaldo. Se soubessem de sua verdadeira situação, a cobrança em relação às derrotas seria menor, porque estariam cientes das limitações do jogador. Ele até tentou fazer a imprensa se sentir culpada dos comentários proferidos sobre seu peso: "Alguns de vocês devem estar com a consciência pesada por terem falado do meu peso!", disse Ronaldo se esquecendo, apenas, de que o culpado disso tudo é ele!

Mesmo assim, o repouso do Fenômeno tocou a todos nós! O gênio da bola se despede para entrar para a história! Com tropeços, vitórias, fracassos, alegrias e imperfeições, ninguém nunca poderá dizer que ele não era um fenômeno. Fenômeno sim, santo não.