Dona Redonda e outras explosões da teledramaturgia brasileira

O fato mais aguardado da novela "Saramandaia", o "explodimento compulsório" de Dona Redonda (Vera Holtz), finalmente foi ao ar na semana que passou. Momento esperado especialmente por quem assistiu a primeira versão da trama de Dias Gomes, a explosão se deu após Redonda comer toda a comida de sua festa de bodas de "pratismo" e descobrir o segredo de João Gibão (Sérgio Guizé), que esconde asas por baixo da roupa.
A recriação da explosão de Dona Redonda foi muito bem executada e um acerto para a novela das 23 horas, agora capitaneada por Ricardo Linhares. Autor e direção souberam imprimir uma estética impecável à cena, tornando-a (novamente) um grande momento da teledramaturgia.
O "detonamento" da clássica personagem me fez lembrar o quanto os folhetins gostam de explosões. Alguns, inclusive, causaram mais desastres do que a cratera deixada por Redonda em Saramandaia.
 
KABUM

Wilza Carla como Dona Redonda
Toda criatura possui um criador. No caso de "Saramandaia", a mente pensante que criou Dona Redonda, em 1976, foi Dias Gomes. Adepto do realismo fantástico, o autor decidiu inventar uma personagem que explodia de tanto comer e era venerada pelo marido. A detonação da personagem marcou a atriz Wilza Carla, que interpretou "Dondinha" na primeira versão. Sem os mesmos recursos tecnológicos de hoje, a cena fez sucesso na época e ainda é muito lembrada.
Ainda falando das explosões de pessoas, Ney Latorraca é responsável por outras duas cenas do gênero. O ator "explodiu", pela primeira vez, interpretando Vlad, o líder dos vampiros da novela "Vamp", que foi derrotado pelos poderes da Cruz de São Sebastião, fincada em seu peito por um Rocha, sendo esta a única maneira de destruí-lo. Anos depois, Latorraca participou de "O Beijo do Vampiro", desta vez vivendo Nosferatu, o inimigo principal de Boris (Tarcísio Meira). O vampiro também explodiu após o ataque de Zeca (Kayky Brito) e do espírito de luz Ezequiel (Celso Frateschi).
Muitos personagens explodiram dentro de seus automóveis. Natal (Antônio Calloni), o proprietário da boate Kosmos na segunda versão da novela "O Astro" teve esse fim. Disputando poder e influência no bairro da Penha com o malandro Neco (Humberto Martins), Natal levou a pior e acabou "indo pelos ares". A explosão de um carro no meio da praça da cidade de Bole-Bole também vitimou um dos capangas do coronel Zico Rosado (José Mayer) e, ainda, feriu o professor Aristóbulo (Gabriel Braga Nunes). Tudo isso com o intuito de colocar a culpa da detonação nos saramandistas, que desejavam trocar o nome da cidade visando dias melhores para a política local.
"Salve Jorge", de Glória Perez, também teve sua cota de explosão de carros. O acontecimento fez com que a quadrilha de traficantes de pessoas, comandada por Lívia Marine (Cláudia Raia), acreditasse que a protagonista Morena (Nanda Costa) estava morta. Quem foi dada como morta em outro folhetim foi a vilã Bia Falcão (Fernanda Montenegro), de "Belíssima". A megera "sofreu um acidente" na estrada, testemunhado pela neta rejeitada Júlia (Glória Pires), mas, capítulos depois, Bia volta para o convívio familiar como se nada tivesse acontecido. 
Chayene: "explodia" objetos com
o poder da mente
Ainda no quesito meios de transporte, a novela "O Clone" exibiu uma explosão de helicóptero. Diogo (Murilo Benício), o irmão gêmeo de Lucas, morre na primeira fase da novela, para desespero do pai Leônidas (Reginaldo Faria). A tragédia faz com que o cientista Albieri (Juca de Oliveira) tente fazer, em laboratório, um clone que substitua o filho perdido de Leônidas. E não é que ele consegue.
Em geral, muitas das explosões novelísticas são causadas por sabotagens. O vilão Alberto (Igor Rickli) preparou uma armadilha para Cassiano (Henri Castelli) e detonou a mina onde o mocinho escavava para encontrar turmalina paraíba. Indo para o lado da comédia, a vilã Chayene (Cláudia Abreu) acreditou, por vários capítulos da novela "Cheias de Charme", que conseguia explodir objetos com o poder da mente.
A misteriosa Anita (Mel Lisboa) foi responsável pela morte de Nando (José Mayer), que vivia um caso com ela na minissérie "Presença de Anita", de Manoel Carlos. Ao som da clássica canção "Ne Me Quitte Pas", a paixão ardente dos dois terminou de maneira explosiva.
 
QUEM EXPLODIU O SHOPPING?
 
O maior mistério da novela "Torre de Babel", escrita por Sílvio de Abreu, estava na criminosa explosão do shopping Tropical Towers. Executado por Sandrinha (Adriana Esteves), o plano pertencia ao pai dela, José Clementino (Tony Ramos), que queria explodir o complexo, quando não houvesse ninguém mais dentro, para se vingar de César Toledo (Tarcísio Meira), seu antigo patrão. Só que Sandrinha, para prejudicar o pai e a família Toledo, detona o shopping quando o mesmo estava lotado, matando muita gente. A explosão do Tropical Towers serviu, também, para dar fim a personagens que foram rejeitados pelo público, como o casal homossexual Rafaela (Christiane Torloni) e Leila (Silvia Pfeifer) e o dependente químico Guilherme (Marcello Antony). 
Por fim, ainda na categoria empreendimentos comerciais, temos a explosão da Luxus, a loja de artigos luxuosos do empresário Omar Pasquim (Francisco Cuoco), da novela "Cobras & Lagartos". Objeto de desejo de vários personagens, a loja foi incendiada por Leona (Carolina Dieckmann), no auge de sua loucura. Presa lá dentro com o filho e o mocinho Duda (Daniel de Oliveira), Leona não se salvou. Foguinho (Lázaro Ramos), que entrou na Luxus para salvar Duda, também morreu. Mas, por obra divina, acabou ganhando uma segunda chance.
Como deu para ver, as explosões são recursos dramatúrgicos muito usados nos folhetins brasileiros. Mesmo assim, nem todas são únicas e marcantes como a explosão causada pela "famintice" de Dona Redonda.

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