Um sofisticado quebra-cabeça chamado "O Rebu"

O mistério costuma render bons argumentos para prender a atenção do espectador de uma novela. A prática foi concretizada nos folhetins com Janete Clair, que mobilizou o país para revelar o assassino do empresário Salomão Hayala de "O Astro". Avançando mais no tempo, Sílvio de Abreu criou um thriller no horário nobre da TV Globo e deixou o público aguçado para descobrir quem era o assassino do horóscopo chinês e qual seria "A Próxima Vítima" do misterioso bandido. Antes disso, ainda, Gilberto Braga e Aguinaldo Silva deixaram uma pergunta nos últimos capítulos de "Vale Tudo": Quem matou Odete Roitman? E esses são apenas alguns exemplos da relação entre as novelas e o suspense.
No meio de tudo isso, lá em 1974, o autor Bráulio Pedroso decidiu criar uma novela cuja ação se passava durante uma festa e o mistério de um corpo que é encontrado na piscina da mansão do empresário e anfitrião Conrad Mahler (Ziembinski). O folhetim começa sem que a vítima seja identificada, mas logo vem à tona que a morta é Silvia (Bete Mendes) e que o crime foi cometido por Mahler. O empresário matou Silvia por ciúme de Cauê (Buza Ferraz), seu protegido e secreto amor.
Anos depois, George Moura e Sérgio Goldenberg decidiram reeditar a clássica trama de "O Rebu", desta vez protagonizada pela empresária Ângela Mahler (Patrícia Pillar), que resolve dar uma festa para celebrar o sucesso de seus empreendimentos e a parceria publicitária de sua empresa de engenharia com um badalado piloto. Ângela é mãe adotiva de Duda (Sophie Charlotte), a filha da governanta da família e cuja mãe verdadeira morreu em um acidente de helicóptero com o marido e os filhos da empresária.
Duda desagrada sua mãe adotiva por manter um relacionamento com Bruno (Daniel de Oliveira), um chantagista cujo corpo aparece boiando na piscina da mansão de Ângela durante a famosa festa. Com a polícia à frente das investigações, logo o público descobre que praticamente todos os convidados tinham motivo para cometer o crime, entre eles, o empresário Carlos Braga (Tony Ramos), um corrupto dono de construtora envolvido em esquemas de superfaturamento de obras públicas, que teve seus crimes revelados por Bruno.
No último capítulo da nova versão, exibido nesta sexta-feira (12), o mistério finalmente foi revelado. Após uma briga com Bruno, Duda o acerta com uma estátua e tranca o namorado dentro de um freezer. Recuperado, ele tenta sair do local, mas é morto por Ângela, que diminui drasticamente a temperatura do compartimento para que ele morra congelado e, assim, deixe sua filha em paz. Ciente do crime da mãe adotiva, Duda assume sozinha o assassinato e exige que a empresária contrate pague o melhor advogado para defendê-la. 
Antes, porém, de que possa fazer alguma coisa, Ângela é vítima de um atirador contratado por Braga, seu sócio nos negócios, e acaba morrendo no final. Desmascarado e diagnosticado com um tumor no cérebro, Braga é preso por corrupção e pela tentativa de suborno ao delegado Pedroso (Marcos Palmeira), que desvenda os crimes da trama.
Modernizada, a nova versão de "O Rebu" termina sendo um dos melhores mistérios apresentados na televisão brasileira, mesmo que a revelação do assassino seja considerada óbvia para alguns. O grande mérito da novela foi a qualidade da história construída. Mantendo a estrutura da original, a trama manteve a ação contínua, ou seja, teve a narrativa que durava o tempo da festa e o dia seguinte à descoberta do corpo na piscina. A sofisticação do texto deu-se por conta dos flashbacks e demais ações que explicavam os acontecimentos da festa, o que exigiu mais atenção do público.
"O Rebu" teve atuações excelentes de todo o elenco, especialmente nos casos de Patrícia Pillar, Tony Ramos e Cássia Kis Magro. As tramas paralelas, que ajudavam a sustentar o mistério da novela, foram favorecidas pelos trabalhos de Vera Holtz, Camila Morgado, José de Abreu, Elcir de Souza, Jesuíta Barbosa, Dira Paes, Marcos Palmeira, Júlio Andrade, Mariana Lima e Cláudio Jaborandy.
A direção de José Luiz Villamarim e a fotografia de Walter Carvalho também merecem elogios, sendo responsáveis por parte importante do sucesso da novela. A iluminação e as cores escolhidas para retratar a história sofisticaram ainda mais a novela. Entre diversas cenas bem realizadas, o grande destaque foi o último momento de Ângela Mahler, vítima de um atirador e morta sob uma escolha primorosa de luz e câmera.
Com bons serviços prestados à TV Globo nos últimos anos, por conta de sucessos como "O Canto da Sereia" e "Amores Roubados", Moura e Goldenberg emplacaram mais um ótimo trabalho na televisão. "O Rebu" exigiu mais do espectador com um quebra-cabeça sofisticado sobre o surgimento de um corpo boiando em uma piscina. Podem me chamar de esperançoso mas, ao final de um trabalho como esse, sempre espero ansiosamente para que a TV possa me surpreender com uma obra de qualidade como essa. Ainda aguardo o dia em que essa exceção vai virar uma regra.

Comentários

  1. A cena final foi perfeita. Me deu uma pena de Ângela, mesmo sabendo que ela não era tão santa assim. Acredito que ela no final quis a morte, uma vez que ficou totalmente exposta ao assassino. Talvez a decepção com a "filha adotiva", misturada com o abandono da melhor amiga (Gilda) e a solidão a fizeram tomar tal atitude. Alguém sabe informar qual o nome da música instrumental que toca na cena da morte dela?

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