"The Newsroom" e os Quixotes do jornalismo
Todos os dias, a equipe de um conceituado telejornal trabalha incansavelmente para levar ao espectador o melhor conteúdo noticioso possível. Para isso, eles enfrentam os donos da emissora, os anunciantes e a audiência, sempre privilegiando o que a ética da profissão prega. É no ambiente da redação deste jornal que se passa a série "The Newsroom", que a HBO terminou de exibir aqui no último dia 1 de outubro, aqui no Brasil.
Na trama, Will McAvoy (Jeff Daniels) é o âncora do The News Night, um conceituado jornal da televisão norte-americana. A personalidade forte de McAvoy causa desconfortos na equipe e em todos que o rodeiam. Durante uma palestra em uma universidade, ele responde à pergunta de uma aluna e explica as razões que impedem os Estados Unidos de ser a melhor nação do planeta. A dura e crítica resposta repercute na internet e em todos os noticiários.
Ainda tendo que lidar com a repercussão de sua fala, McAvoy precisa lidar com mudanças na equipe do telejornal, como a chegada da produtora executiva Mackenzie McHale (Emily Mortimer). Ex-namorada do âncora, ela chega ao The News Night com a proposta de revolucionar o jornalismo, privilegiando uma cobertura mais analítica e ampla dos fatos.
Para convencer McAvoy e a equipe a embarcar nessa jornada, Mackenzie cita constantemente Dom Quixote, clássico personagem de Miguel de Cervantes. Para ela, McAvoy deve assumir o papel de Quixote e lutar para levar ao espectador o melhor do jornalismo, mesmo que ele precise enfrentar os "moinhos de vento" que querem impedi-lo.
A equipe é rapidamente contaminada pelo espírito de Mackenzie, incluindo o chefe Charlie (Sam Waterston). A linha editorial escolhida, porém, não agrada políticos (principalmente os republicanos) e os donos da emissora. A audiência também responde às mudanças, por exemplo, trocando de canal para assistir à cobertura sensacionalista de um assassinato. Esses episódios são muito bons para discutir os caminhos a serem tomados na cobertura das notícias e as diferenças entre jornalismo e entretenimento.
Os dramas pessoas e conflitos na redação são costurados pela cobertura feita pelos personagens de acontecimentos reais, como o vazamento de uma bacia no Golfo do México, a "Primavera Árabe" e a morte de Osama Bin Laden (este, inclusive, o melhor episódio). A maior qualidade de "The Newsroom" é o texto extremamente sagaz, rápido e cínico em alguns momentos.
Além disso, os atores estão excelentes e os personagens são muito carismáticos. Para os jornalistas, principalmente aqueles com mais anos de carreira, os personagens podem parecer bastante idealizados e irreais, e eles até são mesmo. Mas, acho que este é o objetivo da série, confrontando assim a realidade e a utopia no jornalismo.
O modo como o jornalismo é retratado na série pode parecer um pouco distante do que estamos acostumados aqui no Brasil, mas ele é comum nos Estados Unidos. Por lá, as notícias são apresentadas de uma forma mais analítica, estimulando discussões mais aprofundadas no telespectador.
Demorei um pouco para falar sobre "The Newsroom", pois ainda não tinha tido tempo de ver o final da temporada. E, ao ver o último episódio, o que eu tenho a dizer é: Assistam. Para o espectador que não possui nenhuma ligação com a área, a série é um drama com todos os elementos capazes de prender a atenção. E, para os jornalistas, também é um ótima oportunidade de pensar a profissão através da ficção.
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